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O que foi a política do Big Stick?

“O Big Stick no Mar do Caribe” — um desenho que ilustra o presidente dos EUA Theodore Roosevelt implementando sua política externa.
“O Big Stick no Mar do Caribe” — um desenho que ilustra o presidente dos EUA Theodore Roosevelt implementando sua política externa. Domínio público.

A política do Big Stick, ou política do Grande Porrete, é uma abordagem de política externa que defende combinar negociações pacíficas com a ameaça do uso da força militar. Ela adveio de Theodore Roosevelt, o presidente dos EUA entre 1901 e 1902, e continua sendo um conceito importante para a história da política externa estadunidense. Para entender a sua importância, devemos tratar das origens desse conceito, das suas consequências práticas, e do seu legado.

As origens do conceito de Big Stick

No final do século XIX, os Estados Unidos surgiram como nova potência mundial. A rápida industrialização e urbanização do país permitiu que ele expandisse a sua presença para além da América do Norte, posicionando-se à altura dos antigos impérios da Europa. Durante o governo de William McKinley, por exemplo, os EUA ganharam uma guerra contra a Espanha — a Guerra Hispano-Americana de 1898 — e começaram a exercer controle sobre Cuba, Porto Rico e as Filipinas.

Em 1901, Theodore Roosevelt ascendeu ao poder, sucedendo a McKinley. Ele acreditava que os Estados Unidos, devido aos seus sucessos militares recentes, não precisava necessariamente recorrer ao uso da força para conquistar seus objetivos internacionais. Caso as negociações com outros países não dessem certo, mera ameaça de uma ação militar seria suficiente.

Roosevelt expôs suas visões por meio de um provérbio africano de que gostava:

“Fale manso e carregue um grande porrete, assim você vai longe”

Em 2 de setembro de 1901, durante um discurso na Feira Estadual de Minnesota, Roosevelt usou esse provérbio como metáfora. Ele queria enfatizar a necessidade de negociações minuciosas com outros países (“falar manso”) ao mesmo tempo em que mantinha a capacidade e a disposição de usar a força militar (“grande porrete”) caso fosse preciso.

O Corolário Roosevelt

Em 1823, o então presidente James Monroe havia formulado a Doutrina Monroe. Segundo ela, qualquer intervenção europeia nas Américas seria considerada um posível ato hostil contra os EUA (“América para os americanos”).

Quando Roosevelt chegou à presidência, ele pensava que os EUA seriam os “policiais” do Hemisfério Ocidental, porque teriam um imperativo moral para garantir a estabilidade dele — especialmente na sua vizinhança. Então, Roosevelt expandiu a Doutrina Monroe, ao afirmar que os EUA teriam o direito de intervir em nações latino-americanas para assegurar a estabilidade delas.

“Caso um país latino-americano cometa uma irregularidade flagrante e prolongada, os Estados Unidos poderiam intervir nos assuntos domésticos desse pais”

Corolário Roosevelt

A política do Big Stick na América Latina

A ideologia do Grande Porrete e o Corolário Roosevelt inspirariam várias intervenções dos EUA na América Latina.

A questão venezuelana de 1902

Em 1902, o governo venezuelano decretou que não pagaria a sua dívida externa — o que foi repudiado por seus credores europeus. A Grã-Bretanha, a Alemanha e a Itália retaliaram por meio de um bloqueio aos portos do país e de um embargo. A ideia era tentar pressionar o país a cumprir suas obrigações financeiras.

Por um lado, Roosevelt estava convencido de que a Venezuela deveria cumprir suas obrigações. Assim, ele aceditava que o bloqueio naval era justo — desde que os europeus não conquistassem territórios na América Latina.

Por outro lado, Roosevelt preocupava-se que o uso da força contra a Venezuela poderia estabelecer um perigoso precedente para futuras intervenções no continente. Então, ele criticou as ações dos europeus e pressionou-os a aceitar uma solução negociada para a crise. Em 1903, os venezuelanos concordariam em ceder 30% dos seus impostos de importação e exportação para pagar as dívidas prévias.

A construção do Canal do Panamá

Os Estados Unidos, há muito tempo, já haviam reconhecido os benefícios de um canal que conectasse o Oceano Atlântico ao Oceano Pacífico. No final do século XIX, a Nicarágua e o Panamá estavam sendo especulados como possíveis locais para algo do tipo.

No fim das contas, a Nicarágua foi descartada, porque inundar as suas imensas florestas não seria viável. Assim, os EUA entraram em negociações com a Colômbia, que governava o Panamá naquela época, e com a França, que também se interessava pelo projeto.

Quando as negociações chegaram a um impasse, Roosevelt deu apoio a uma revolução no Panamá, que levaria à independência dele. Os colombianos tentaram reverter essa perda, porém a presença das Forças Armadas estadunidenses nas redondezas desencorajou-os.

Após essa ameaça de intervenção, os EUA conseguiram construir o canal, que seria aberto em 1914.

O envolvimento dos EUA em Cuba

Depois da Guerra Hispano-Americana de 1898, Cuba ficou teoricamente independente. Na prática, no entanto, seria controlada pelos Estados Unidos.

Em 1901, o Congresso dos Estados Unidos aprovou a Emenda Platt ao Projeto de Lei de Apropriações do Exército. Ela continha sete condições para a retirada das tropas americanas do território cubano. Em geral, isto era o que elas previam:

  1. Cuba não pode fazer tratados ou acordos com potências estrangeiras que enfraqueceriam sua independência ou permitiriam o controle ou colonização estrangeira de qualquer parte da ilha.
  2. Cuba não pode acumular dívidas que o governo não possa pagar.
  3. Os EUA podem intervir militarmente para proteger a independência cubana, garantir um governo estável, resguardar a vida, a propriedade e a liberdade individual, e cumprir obrigações estadunidenses.
  4. As ações tomadas pelos militares dos EUA em Cuba durante sua presença militar são válidas, e quaisquer direitos adquiridos durante esse período serão mantidos.
  5. Cuba compromete-se a seguir planos para saneamento nas cidades, a fim de prevenir surtos de doenças.
  6. Cuba e os EUA decidirão a soberania sobre a Ilha da Juventude no futuro.
  7. Cuba venderá ou arrendará terras aos Estados Unidos, em pontos específicos, para estações de carvão ou bases navais (mais tarde, isso levaria à construção da base da Marinha dos EUA na Baía de Guantánamo).

Para garantir a implementação dessas condições, Cuba anexou-as à sua Constituição.

Durante o governo de Roosevelt, os militares estadunidenses interviriam em Cuba múltiplas vezes. Em 1906, por exemplo, quando a instabilidade política e econômica prejudicava os investimentos e interesses estrangeiros em Cuba, Roosevelt mandou tropas para restaurar a ordem e proteger os cidadãos estadunidenses. De forma parecida, os EUA interviram em 1909, em reação a uma eleição contestada.

A Grande Frota Branca: Big Stick no resto do mundo

Embora os EUA estivessem focados na sua vizinhança, o país aplicou alguns elementos da política do Grande Porrete a outras regiões também.

A Grande Frota Branca (Great White Fleet) foi uma expedição naval realizada pela Marinha dos Estados Unidos, de 1907 a 1909. Ela era composta por 16 navios de guerra pintados de branco, os quais embarcaram numa turnê global para demonstrar o poderio dos EUA. O objetivo principal da frota era projetar força naval em longas distâncias, especialmente no Pacífico e no Atlântico.

Essa expedição introduziu os EUA como uma grande potência marítima, e ajudou a evitar uma guerra contra o Japão devido aos maus-tratos a japoneses na Califórnia. As tensões acabariam quando os japoneses receberam calorosamente os marinheiros estadunidenses no Porto de Yokohama.

A Grande Frota Branca simbolizava a política do Big Stick em escala global, porque projetava poder sem recorrer ao uso da força.

Conclusão

A ideologia do Grande Porrete foi um aspecto fundamental da política externa de Theodore Roosevelt. Ela permitiu que os Estados Unidos afirmassem as suas proezas militares ao mesmo tempo em que mantinham relações pacíficas e diplomáticas com outros Estados.

No seu auge, essa política não ficou sem contestações. Algumas nações viam os EUA como uma potência imperialista, e preocupavam-se com a interferência nos assuntos internos de Estados soberanos. Além disso, havia estadunidenses que acreditavam que o governo arriscava confrontos desnecessários na América Latina.

Apesar disso, a busca pela paz, com o apoio da força militar, continua a ser um dos pilares da diplomacia dos Estados Unidos. O envio de tropas para o exterior, a relutância em abrir mão do arsenal nuclear, e as operações de “liberdade de navegação” em alto-mar comprovam a sabedoria das ideias de Roosevelt. Embora os EUA não intervenham mais de forma direta nos países vizinhos, a política do Big Stick deixou um legado duradouro para os diplomatas do país.


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