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Por que a União Soviética foi extinta?

“Lênin na Praça Vermelha”, pintura de Aleksei Sidorov, em 1924.
“Lênin na Praça Vermelha”, pintura de Aleksei Sidorov, em 1924. Domínio público.

Um território de mais de 22.000.000 de quilômetros quadrados. Uma população de quase 300.000.000 de pessoas. Cerca de 45.000 armas nucleares armazenadas. 21 repúblicas existiam dentro de suas fronteiras, e muitos outros Estados foram influenciados por seu comunismo. Durante boa parte do século 20, a União Soviética foi uma superpotência que detinha influência sobre uma vasta parcela da Europa e da Ásia. Então, por que ela desapareceu subitamente em 1991?

Ao analisar a história, está claro que não foi um único fator que levou à queda da União Soviética. Sua derrocada já estava ocorrendo há muitos anos – senão há décadas. Ela foi uma consequência de fatores econômicos, ideológicos e políticos, que se reforçaram mutuamente e puseram fim à Guerra Fria.

Fatores econômicos

Por muitos anos, o Estado soviético controlou a agricultura, a indústria e o setor de serviços. No início, isso possibilitou um forte e rápido crescimento econômico. No entanto, com o tempo, as falhas inerentes a esse modelo se tornaram evidentes. Como a economia era centralmente planejada, havia pouco espaço para a iniciativa individual e para a promessa de ganhos pessoais baseados no trabalho duro. As pessoas não estavam dispostas a trabalhar com afinco, já que as recompensas ao trabalho eram frequentemente limitadas pelo Estado. Como não havia incentivos, os produtores não inovavam e os consumidores acabavam ficando com produtos obsoletos e de má qualidade.

Além disso, os burocratas do governo favoreciam fortemente a indústria pesada e a produção de armas. Para eles, tudo o que importava era diminuir a diferença entre a URSS e os EUA no setor de defesa. Por isso, o Estado destinou recursos substanciais para o complexo militar-industrial, ao mesmo tempo em que negligenciava os bens de consumo e os serviços públicos. Em vez de alimentar a boca e as aspirações do seu povo, o governo não deu atenção às crescentes carências e deficiências em saúde, educação, moradia e infraestrutura pública.

A estagnação tecnológica e falta de cuidado com o bem-estar da população tinham uma mesma consequência: gerar insatisfação entre os cidadãos.

Fatores ideológicos

A União Soviética era composta por várias etnias e culturas. Os Estados Bálticos, os estados do Cáucaso e as Repúblicas da Ásia Central, bem como a Ucrânia, Belarus e Moldávia — todos tinham sentimentos nacionalistas. Quando essas regiões foram incorporadas à URSS, esses sentimentos foram reprimidos por uma ideologia comunista que pretendia ser unificadora. É verdade que o governo se esforçou para exaltar os benefícios da sua própria ideologia. No entanto, o entusiasmo das pessoas com a Revolução diminuiu, devido às crescentes discrepâncias entre o discurso do governo e a realidade cotidiana.

A censura rigorosa não foi eficaz em impedir que os jovens fossem expostos à mídia e às ideias ocidentais. A importação de bens de consumo ocidentais escancarou as disparidades entre os padrões de vida soviéticos e aqueles nos países capitalistas. Além disso, à medida que a autoridade do governo diminuía, as tensões étnicas ressurgiam e os movimentos secessionistas ganhavam força. Foi assim que os chechenos se revoltaram contra o governo e como os Estados Bálticos (Estônia, Letônia e Lituânia) começaram a afirmar sua autonomia.

No Tajiquistão, um grupo de manifestantes nacionalistas enfrentou o Exército Soviético em 1990.
No Tajiquistão, um grupo de manifestantes nacionalistas enfrentou o Exército Soviético em 1990. Foto por Vladimir Fedorenko, com licença CC-BY-SA 3.0.

Fatores políticos

Na década de 1980, o Partido Comunista da URSS passou a ser liderado por uma série de homens idosos. Leonid Brezhnev, Yuri Andropov e Konstantin Chernenko — todos na faixa dos 60 ou 70 anos — sucediam-se à medida que seus antecessores morriam. Esse processo recebeu o nome de gerontocracia: uma estrutura política dominada por líderes idosos, que ascendiam ao poder porque se imaginava que tinham experiência e sabedoria.

No entanto, Brezhnev, Andropov e Chernenko estavam presos ao passado. Eles tinham ideias ultrapassadas e não foram capazes de implementar as mudanças necessárias, o que perpetuava a estagnação política e econômica do país.

No entanto, em 1985, a ascensão de Mikhail Gorbachev ao poder marcou uma ruptura com o passado. Ele implementou reformas que visavam a sanar as deficiências do país: a perestroika (reestruturação econômica) e a glasnost (abertura política). Embora tenham sido inicialmente recebidas com algum otimismo cauteloso, essas políticas expuseram os problemas sistêmicos da URSS.

A perestroika buscava introduzir um capitalismo limitado, permitindo algum grau de iniciativa privada, com o objetivo de injetar nova vida à economia soviética. No entanto, descentralizar a agricultura e a indústria acabou sendo mais difícil do que se pensava. As gigantes empresas estatais eram ultrapassadas, marcadas pela corrupção e pela falta de progresso tecnológico. Ao serem privatizadas, as novas empresas não tinham qualquer chance de oferecer produtos competitivos. Assim, a inflação, o desemprego e a escassez de produtos pioraram — e isso acabou com a confiança da população na economia.

A glasnost visava a promover a transparência política, a liberdade de expressão, e a discussão pública de questões que haviam sido censuradas por muito tempo. Gorbachev queria que as pessoas encontrassem soluções para os problemas da nação, muito no espírito dos sovietes – os inúmeros conselhos locais que existiam durante a Revolução Russa. Em vez disso, o relaxamento da censura enfraqueceu as fantasias do governo sobre a vida na URSS. As pessoas passaram a discutir abertamente os problemas, como o desastre nuclear de Chernobyl e o fato de o governo não ter lidado direito com isso. Assim, a insatisfação dos cidadãos aumentou e eles passaram a reivindicar mudanças mais abrangentes.

Imagem aérea do desastre de Chernobyl, que escancarou as deficiências do governo Soviético.
Imagem aérea do desastre de Chernobyl, que escancarou as deficiências do governo Soviético. Foto por Joker345, com licença CC BY-SA 4.0.

Fatores políticos

A situação agravou-se em agosto de 1991, quando um grupo de membros linha-dura do Partido Comunista tentou depor Gorbachev do cargo de Secretário Geral do Partido. Eles temiam que a perestroika e a glasnost desintegrassem o país, e queriam restaurar o governo centralizado. Mas essa tentativa de golpe encontrou ampla resistência popular, liderada pelo presidente russo Boris Yeltsin.

A resistência de Yeltsin ao golpe fortaleceu sua popularidade e o posicionou como um líder carismático defendendo reformas democráticas e maior autonomia para as repúblicas que faziam parte da URSS. Sua influência cresceu à medida que defendia a descentralização e apoiava a soberania das repúblicas.

Diante do crescente ímpeto por mudança, os líderes de três grandes repúblicas soviéticas — Rússia, Ucrânia e Belarus — reuniram-se na Floresta de Belaveja, em 8 de dezembro de 1991. Em um ato marcante, eles assinaram o Pacto de Belaveja, que declarou a dissolução da União Soviética. Para substitui-la, houve a criação da Comunidade dos Estados Independentes (CEI). Essa nova aliança tinha o intuito de fomentar a cooperação entre as antigas repúblicas soviéticas, reconhecendo sua história compartilhada e os seus laços econômicos, porém preservando as suas respectivas soberanias.

No dia 25 de dezembro, Gorbachev renunciou ao cargo de Secretário Geral, e a bandeira comunista, que havia sido hasteada sobre o Kremlin por décadas, foi abaixada. Dessa maneira tão simbólica, acabou o experimento soviético e a superpotência comunista chegou ao seu fim.

O legado do colapso da URSS

A dissolução da União Soviética teve ramificações globais, porque redefiniu a geopolítica e inaugurou uma era de unipolaridade nas relações internacionais. A partir de então, o mundo seria governado por uma única superpotência, os EUA, com o apoio de seus aliados na Europa Ocidental, na Ásia e na Oceania.

Transformadas em Estados independentes, as antigas repúblicas soviéticas enfrentariam dificuldades para adotar os princípios liberais. Algumas fizeram a transição com sucesso para a democracia e a economia de mercado, enquanto outras sofreram com a instabilidade política, a corrupção e alguns conflitos regionais. Em certos casos, resquícios de rivalidade territorial da Guerra Fria permanecem até hoje – como no caso de Nagorno-Karabakh (disputado por Armênia e Azerbaijão), Transnístria (uma província separatista da Moldávia) e Ossétia do Sul e Abecásia (que declararam a sua independência da Geórgia).

Pode-se concluir, então, que o colapso da União Soviética foi o resultado de uma interação complexa de fatores econômicos, ideológicos e políticos. Hoje em dia, a extinção da URSS serve como uma lembrança de que os governos devem se adaptar às exigências dos seus povos. Caso contrário, podem ganhar força movimentos populares que mudam completamente a trajetória das nações.


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