DiploWiki

Teorias de Relações Internacionais: O Guia Definitivo

Um globo detalhado é exibido em destaque no primeiro plano, com foco nítido em seu mapa colorido, mostrando vários países em tons diversos. O fundo apresenta uma sala suavemente desfocada com vigas de madeira e um ambiente acolhedor, iluminado pela luz quente de dois abajures. No chão, almofadas e livros espalhados sugerem um ambiente relaxado e educativo.
Um globo focado na África e no Oriente Médio, regiões que recentemente ganharam destaque nas RI, devido às teorias pós-coloniais. Imagem de Kyle Glenn.

O estudo das Relações Internacionais (RI) abrange uma ampla gama de teorias que fornecem diversas perspectivas sobre como os estados interagem, a natureza do sistema internacional e os fatores que influenciam a política global. Cada teoria tem suas próprias premissas e oferece suas próprias percepções sobre o comportamento dos estados e a governança global. Como campo acadêmico de estudo, as RI começaram com teorias liberais no contexto da Primeira Guerra Mundial. Mais tarde, o pensamento liberal seria contrariado por várias vertentes do Realismo (como o Realismo Clássico, o Neorrealismo e o Realismo Neoclássico) e seria reforçado por várias vertentes do Liberalismo (como o Funcionalismo e o Neoliberalismo). A Escola Inglesa surgiu como uma alternativa ao pensamento liberal e realista, e, nas últimas décadas do século XX, muitas outras teorias surgiram. Por meio dessas variadas lentes, os estudiosos podem entender melhor as complexidades das interações globais e a natureza multifacetada dos assuntos internacionais. Este artigo fornece uma visão geral das teorias mais relevantes de RI, seus proponentes e seus argumentos.

Liberalismo

O Liberalismo emergiu como uma escola significativa das Relações Internacionais no século XX. Um de seus princípios centrais é a ideia de que a segurança de um estado só pode ser garantida quando a segurança de todos os estados é assegurada. De acordo com os liberais, os estados são atores racionais capazes de usar a razão para alcançar uma cooperação mutuamente benéfica. Ao contrário do realismo, que vê a política internacional como um jogo de soma zero impulsionado por lutas de poder, o liberalismo postula que os assuntos mundiais podem ser um jogo de soma positiva onde a cooperação leva a cenários de ganho mútuo.

Vários fatores contribuem para este ambiente internacional cooperativo:

  • Livre Comércio: Os liberais argumentam que o livre comércio promove a interdependência entre as nações. Por meio do comércio, os países trocam bens e serviços, beneficiando-se economicamente e criando uma rede de dependências mútuas que reduzem a probabilidade de conflito.
  • Democracia: Acredita-se que as nações democráticas sejam mais pacíficas em suas interações com outras democracias, um conceito conhecido como a “Teoria da Paz Democrática”. Esta teoria sugere que as normas e instituições democráticas promovem a resolução pacífica de conflitos.
  • Instituições Internacionais: Instituições como as Nações Unidas desempenham um papel crucial em fomentar a cooperação e resolver disputas. Essas instituições estabelecem normas e regras que orientam o comportamento dos estados, tornando as relações internacionais mais previsíveis e estáveis.

Figuras-chave moldaram os princípios e argumentos do Liberalismo. Norman Angell escreveu “A Grande Ilusão” em 1910, argumentando que a guerra era economicamente e socialmente irracional, porque tanto vencedores quanto perdedores sofrem suas consequências prejudiciais. Woodrow Wilson, o ex-presidente dos EUA, apresentou os “Quatorze Pontos” após a Primeira Guerra Mundial, uma série de princípios liberais destinados a estabelecer um quadro para uma paz estável e duradoura.

Realismo

O Realismo nas Relações Internacionais surgiu durante o período entre guerras como uma reação às falhas percebidas do Liberalismo, particularmente após a eclosão da Primeira Guerra Mundial. Ganhando destaque significativo durante a Guerra Fria, o Realismo oferece uma visão pragmática e austera da política internacional, enfatizando o papel duradouro do poder e a natureza competitiva das interações entre os estados.

Os realistas argumentam que o sistema internacional é anárquico, significando que é composto por estados soberanos sem uma autoridade superior acima deles. Baseando-se nas ideias de Thomas Hobbes, os realistas sustentam que o mundo existe em um estado perpétuo de natureza caracterizado pela insegurança e potencial conflito. Neste cenário, os estados são vistos como atores racionais que operam em seu próprio interesse. Eles não podem contar com outros estados para sua segurança, levando a um sistema de autossuficiência onde cada estado deve garantir sua própria segurança. Segundo a maioria dos realistas, as interações internacionais são jogos de soma zero, particularmente em questões de segurança — isto é, o ganho de um estado muitas vezes vem à custa de outro. Robert Jervis argumentou contra essa visão, afirmando que os estados podem cooperar em questões de segurança se assim escolherem.

Os principais estudiosos associados ao Realismo são Edward Carr, Hans Morgenthau e John Herz. Carr criticou os liberais por sua crença ingênua em princípios e instituições, argumentando que os princípios são subordinados à política. Morgenthau enfatizou que os interesses dos estados são definidos em termos de poder, mas afirmou que o poder tem múltiplas dimensões: militar, econômico, político, etc. John Herz introduziu o conceito de “dilema de segurança”, segundo o qual ações tomadas por um estado para garantir sua própria segurança podem ser percebidas como ameaças por outros estados, levando a corridas armamentistas e aumento da insegurança para todos.

Saiba mais sobre o Realismo Clássico nas Relações Internacionais.

Funcionalismo

O Funcionalismo surgiu na década de 1930, principalmente avançado por David Mitrany. Ele criticou a noção de fronteiras estatais, vendo-as como grandes obstáculos para a formação de uma sociedade global. Ele propôs que os estados-nação deveriam ser substituídos por um sistema de agências internacionais. Essas agências seriam permanentemente designadas a algumas das funções e autoridades tradicionalmente mantidas pelos estados, promovendo a cooperação, especialmente em áreas de “política baixa”, como questões econômicas e sociais, em vez de “política alta”, que envolvem questões de segurança e defesa.

Os proponentes do Funcionalismo focam no estudo do funcionamento de organizações internacionais especializadas, promovendo a cooperação internacional de uma maneira que garantiria “a paz aos poucos”. Um aspecto crítico desta teoria é o efeito de transbordamento, que postula que a cooperação intergovernamental bem-sucedida em uma área se estenderia a outras áreas, incentivando uma cooperação adicional. Por exemplo, em “A Unificação da Europa” (1958), Ernst Haas analisou como a cooperação em áreas como carvão, aço e pesquisa nuclear facilitou a integração europeia por meio de efeitos de transbordamento. Outros autores associados ao Funcionalismo são Karl Deutsch e David Mitrany, que também estudaram iniciativas de integração regional.

A foto captura um momento histórico significativo, mostrando vários homens de meia-idade, vestidos em ternos, sentados em uma longa mesa durante a assinatura dos Tratados de Roma em 1957. Eles parecem concentrados e solenes, sublinhando a gravidade da ocasião. Alguns estão olhando para a câmera enquanto outros estão envolvidos com os documentos à sua frente, com um fundo ornamentado que enfatiza a formalidade do evento.
A assinatura dos Tratados de Roma, em 1957, que estabeleceram a CEE e a Euratom — organizações internacionais que contribuíram para a integração europeia. Imagem do Arquivo Federal Alemão, licenciada sob CC BY-SA 3.0 DE.

A Escola Inglesa

A Escola Inglesa surgiu principalmente do Comitê Britânico sobre a Teoria das Relações Internacionais, estabelecido em 1959, e se baseia em uma rica variedade de influências de disciplinas como direito, filosofia, história e sociologia.

A Escola Inglesa propõe um meio-termo entre o Realismo e o Liberalismo, chamado Racionalismo. Do Realismo, adota o conceito de anarquia, reconhecendo que não há autoridade superior acima dos estados soberanos. Do Liberalismo, empresta a noção de que a cooperação é possível e essencial nas relações internacionais. Essa combinação permite à Escola Inglesa argumentar que fatores sistêmicos e normativos — como regras, normas, valores, princípios, processos de tomada de decisão e padrões de comportamento — influenciam significativamente o comportamento dos estados, mesmo dentro de um sistema internacional anárquico. Esses fatores permitem uma coexistência estável entre os estados, apesar de terem interesses nacionais diferentes.

Estudiosos associados a essa escola postulam que há vários estágios nas relações internacionais entre os estados, começando com um sistema internacional (em que os estados interagem apesar de terem pouco em comum) e terminando com um governo mundial (uma entidade supranacional que impõe governança de cima para baixo). Segundo Adam Watson, a Europa está no meio desse continuum, pois existe uma sociedade internacional europeia: um conjunto integrado de estados que compartilham costumes, normas, princípios e valores.

Tanto Martin Wight quanto Hedley Bull são pensadores-chave dentro da Escola Inglesa. Wight é conhecido por segmentar a teoria de RI em três tradições, conhecidas como os “três Rs”: Revolucionismo, Realismo e Racionalismo. Bull argumentou que um sistema internacional estável é um pré-requisito para alcançar a justiça internacional e para manter princípios como autodeterminação e soberania estatal.

Neorrealismo

O Neorrealismo, também conhecido como Realismo Estrutural, surgiu como uma resposta às limitações percebidas do Realismo Clássico. Ao contrário deste último, que atribui a busca pelo poder à natureza humana, o primeiro argumenta que restrições sistêmicas no sistema internacional levam os estados a buscar poder.

Kenneth Waltz é a principal figura por trás do Realismo Estrutural. Em “O Homem, o Estado e a Guerra” (1959), ele foi influenciado pelos behavioristas e afirmou que o fenômeno da guerra pode ser explicado por meio de três níveis de análise: o nível individual, o nível do estado e o nível sistêmico. Em “Teoria da Política Internacional” (1979), ele postulou que a guerra é explicada pela anarquia internacional, que é imutável — ou seja, nenhum estado pode se tornar uma potência hegemônica. Segundo Waltz, os estados são atores racionais e de auto-interesse que tentam manter um equilíbrio de poder, reagindo contra qualquer estado que tente maximizar seu próprio poder às custas dos outros. Ele acreditava que o melhor equilíbrio de poder era aquele dentro de uma ordem bipolar, considerada mais transparente, estável e previsível do que sistemas multipolares.

A teoria de Waltz, conhecida como Realismo Defensivo, contrasta com as ideias de outro neorrealista, John Mearsheimer, no livro “A Tragédia da Política das Grandes Potências” (2001). Mearsheimer argumentou que, diante da competição internacional pela sobrevivência nacional, a melhor estratégia é um estado maximizar seu próprio poder. No entanto, ele admitiu que a hegemonia global pode ser difícil de alcançar, portanto, propôs que um estado deve buscar a hegemonia regional e delegar assuntos fora de sua própria vizinhança para outras potências regionais — um processo chamado “passagem de fardo”.

Neoliberalismo

Nas décadas de 1950 e 1960, as teorias liberais lutaram para contrariar o domínio do Realismo dentro das Relações Internacionais. Na década de 1970, Robert Keohane e Joseph Nye introduziram o Neoliberalismo, ou Liberalismo Institucional, no contexto da détente da Guerra Fria. Esses estudiosos perceberam que as questões de segurança estavam dando lugar a outros tópicos dentro da política internacional, como direitos humanos, desenvolvimento econômico, preocupações ambientais e não alinhamento geopolítico. O Neoliberalismo afirmava que o Neorrealismo negligenciava essas questões de “política baixa” e falhava em considerar o impacto de variáveis domésticas e atores não estatais nas relações internacionais.

O conceito mais importante para os neoliberais é o de “interdependência complexa”. Esta ideia afirma que no mundo moderno, as ações de um ator inevitavelmente afetam outros. Em particular, havia três características do mundo moderno que tornavam os estados e os atores não estatais interdependentes:

  • Vários canais de contato entre sociedades, pois surgiram relações entre estados, organizações internacionais, ONGs e indivíduos.
  • Falta de hierarquias claras de questões, pois questões econômicas, sociais, ambientais e outros tipos de questões existem e um tipo não prevalece sobre os outros.
  • Irrelevância da força militar, pois ela é amplamente irrelevante em disputas não militares entre países, como disputas comerciais.

Um mundo caracterizado pela interdependência complexa é um mundo onde os estados enfrentam riscos aumentados, porque tudo está interconectado. De acordo com Keohane e Nye, mais do que ser um caminho para alcançar a paz mundial, a cooperação internacional é uma estratégia viável para gerenciar os desafios da interdependência. Como a interdependência afeta os estados de maneira semelhante, eles têm um interesse comum em encontrar soluções para problemas compartilhados. Um exemplo disso foi a Crise do Petróleo de 1973, quando países desenvolvidos uniram forças para conter os aumentos de preços organizados pela OPEP. Essa cooperação não surgiu de um desejo imperativo de paz, mas de considerações práticas para resolver uma questão econômica premente.

A imagem mostra um posto de gasolina de estilo antigo com quatro bombas de combustível sob um toldo branco, com placas de gasolina da Shell. No primeiro plano, um grande cartaz pintado à mão diz "PUMPS CLOSED". O fundo apresenta uma paisagem ligeiramente desfocada com uma estrada e alguns carros, e um edifício branco sob um céu nebuloso, capturando a essência da crise do petróleo de 1973.
Um posto de gasolina fechado nos Estados Unidos devido à falta de abastecimento de petróleo no meio da Crise do Petróleo de 1973, quando os países da OPEP interromperam temporariamente sua produção. Imagem de domínio público por David Falconer, da Coleção de Arquivos Nacionais.

Realismo Neoclássico

O Realismo Neoclássico foi introduzido por Gideon Rose em 1998. Como o Neorrealismo, esta teoria sustenta que o sistema internacional é o principal nível de análise. Todavia, ao contrário do Neorrealismo, o Realismo Neoclássico reconhece que variáveis domésticas podem influenciar significativamente o comportamento dos estados. Em particular, estudiosos que adotam essa abordagem acreditam que a política externa de um estado pode ser explicada por variáveis sistêmicas (capacidades materiais), variáveis cognitivas (interpretações) e variáveis domésticas. Estas últimas incluem instituições políticas domésticas, as preferências das elites e ideologias sociais.

Alguns dos autores que adotam essa abordagem são Stephen Walt, William Wohlforth, Randall Schweller, Daniel Deudney, Fareed Zakaria e Jeffrey Taliaferro. Eles criticam as simplificações excessivas do Neorrealismo e fornecem uma alternativa convincente para ir além do modelo de estados como “caixas-pretas”.

Marxismo

O Marxismo nas Relações Internacionais é um quadro teórico que utiliza o materialismo histórico para analisar como as condições materiais de produção determinam a organização e o desenvolvimento social. Embora Karl Marx e Vladimir Lenin acreditassem que o capitalismo tinha um efeito modernizador e civilizador nas sociedades e economias tradicionais, estudiosos marxistas de RI postulam que o capitalismo gera disparidades econômicas e relações exploradoras entre os estados. Muitas vezes, são as corporações multinacionais que se beneficiam dessas relações, em vez dos estados.

Um destacado estudioso marxista de RI foi Immanuel Wallerstein, que introduziu a teoria do “sistema-mundo”. Ele categorizou os estados em três grupos: o núcleo, a semiperiferia e a periferia. Segundo ele, o núcleo é composto por países desenvolvidos, que dominam os meios de produção, produzem bens de alto valor agregado e exploram tanto a semiperiferia quanto a periferia. A periferia é composta pelos países mais explorados, enquanto a semiperiferia está em uma posição melhor, explorando a periferia enquanto é explorada pelo núcleo. Em contraste com o núcleo, ambos produzem bens primários, que são menos lucrativos.

Estudiosos marxistas que adotam a “teoria da dependência” afirmam que os pobres ficam mais pobres enquanto os ricos ficam mais ricos, porque os bens primários exportados pela periferia e semiperiferia não compensam os bens industrializados importados por eles. Em linha com o Marxismo, esses autores argumentam que as contradições inerentes ao capitalismo levarão a crises cada vez mais profundas, causando, em última análise, seu colapso.

Construtivismo

O Construtivismo foi introduzido nas Relações Internacionais na década de 1980 e ganhou destaque na década seguinte, pois explicou adequadamente o fim da Guerra Fria e a crescente importância dos indivíduos nos assuntos globais. Essa abordagem sustenta que ideias, regras e instituições são cruciais para entender tanto o comportamento dos estados quanto a dinâmica do sistema internacional.

Baseando-se na Teoria da Estruturação de Anthony Giddens, os construtivistas argumentam que tanto agentes quanto estruturas co-constituem um ao outro. Em outras palavras, o sistema internacional não determina como os estados se comportarão, e o comportamento dos estados individuais não determina como o sistema internacional evoluirá. Em vez disso, as identidades, interesses e ações dos estados são socialmente construídos e podem mudar ao longo do tempo. Por essa razão, os construtivistas criticam a ênfase que o Realismo coloca nas capacidades militares dos estados. Por exemplo, um estado pode se sentir mais ameaçado por um inimigo com uma única ogiva nuclear do que por um aliado com muitas. Isso prova que significados sociais, e não apenas capacidades materiais, são responsáveis por influenciar as ações dos estados.

Os principais construtivistas nas Relações Internacionais são Alexander Wendt, Nicholas Onuf e Friedrich Kratochwil:

  • Wendt foi o primeiro construtivista nas RI. Ele introduziu a noção de “culturas de anarquia”, que consistem em cenários possíveis para o sistema internacional: conflito (cultura hobbesiana), rivalidade (cultura lockeana) ou cooperação (cultura kantiana) entre os estados. Segundo ele, “Anarquia é o que os estados fazem dela”, o que significa que os estados são livres para buscar qualquer cultura de anarquia possível, em vez de serem condenados a uma única delas o tempo todo.
  • Onuf foi além do legado de Wendt ao enfatizar o papel das convenções, normas, regras e instituições internacionais na formação do comportamento estatal. Segundo ele, as convenções são comportamentos que os estados adotam porque tradicionalmente o fizeram, e as normas e regras são comportamentos que os estados adotam porque acreditam que são obrigados a fazê-lo. Ambos restringem a ação estatal, mas, por serem socialmente construídos, estão sujeitos a mudanças ao longo do tempo.
  • Kratochwil revolucionou o Construtivismo como uma metateoria das Relações Internacionais, pois rompeu com as suposições “positivistas” que tanto Wendt quanto Onuf fizeram, até certo ponto. Ele argumentou que os únicos limites às ações dos estados eram limites intangíveis, como normas linguísticas e regras socialmente construídas. Contudo, ele reconheceu que tais limites são um tanto difíceis de mudar, pois se baseiam em consenso social e considerações práticas.

Pós-Positivismo

As teorias pós-positivistas das Relações Internacionais surgiram como uma resposta crítica ao Positivismo, que era a abordagem meta-teórica predominante dentro da disciplina até algumas décadas atrás. Os positivistas sustentam que o conhecimento científico pode ser neutro e verificável, especialmente se empregar os métodos das ciências naturais. Por outro lado, os pós-positivistas afirmam que a ciência não pode fornecer uma visão objetiva da realidade, porque os cientistas são tendenciosos, sua linguagem não é neutra e seus métodos são imperfeitos — particularmente nas ciências sociais como as RI, porque os fenômenos sociais não podem ser estudados em condições de laboratório isoladas.

Existem várias vertentes do pós-positivismo nas RI, como:

  • Teorias Críticas: Elas foram influenciadas pela Escola de Frankfurt, uma abordagem sociológica que combina marxismo, psicanálise e pesquisa sociológica empírica. Os principais proponentes dessas teorias são Andrew Linklater e Robert Cox, que criticam o fato de que um punhado de estados poderosos controla o sistema internacional.
  • Teorias Pós-Estruturalistas: Também chamadas de “teorias pós-modernas”, elas argumentam que a linguagem, percepções e processos cognitivos moldam significativamente a observação e análise dos fenômenos sociais. Elas foram influenciadas por pensadores como Friedrich Nietzsche, Jacques Derrida e Michel Foucault. Nas RI, R.B.J. Walker é um importante autor pós-estruturalista, com várias obras críticas aos discursos de “nós contra eles”.
  • Teorias Pós-Coloniais: Elas criticam o caráter eurocêntrico das relações internacionais modernas e o fato de que certos países e sociedades continuam subjugados, apesar de terem alcançado a independência política. Edward Said, por exemplo, denunciou famosamente as representações ocidentais das pessoas orientais de maneira condescendente.
  • Teorias Feministas: Elas argumentam que as Relações Internacionais se concentram predominantemente em temas e ideias masculinas, enquanto as mulheres e suas características femininas são negligenciadas. Contra essa tendência chauvinista, por exemplo, Cynthia Enloe enfatizou o papel das mulheres na política internacional, tanto dentro dos estados quanto dentro de entidades privadas, como corporações multinacionais e ONGs.
  • Teorias Queer: Elas argumentam que os estudiosos de RI não consideram as ideias, necessidades e perspectivas das pessoas não-binárias, tratando-as como desvios dos padrões de gênero e sexualidade. Uma proponente chave dessas teorias dentro da disciplina é Cynthia Weber, que condenou os traços heterossexuais do sistema internacional desde a Paz de Vestfália.
A imagem mostra uma cena de rua lotada em um comício feminista, com inúmeras pessoas vestindo roupas de inverno. O foco está em um cartaz segurado no alto, com os dizeres "THE FUTURE IS FEMALE," decorado com flores cor-de-rosa e um símbolo feminino. A arquitetura circundante e as árvores sem folhas sugerem que é um ambiente urbano durante uma estação fria, capturando um momento de ativismo e expressão em um espaço público.
Um cartaz que diz “O Futuro é Feminino” em um protesto. Imagem de Lindsay LaMont.

Conclusão

As diversas teorias das Relações Internacionais cada uma contribui com perspectivas e metodologias únicas para entender a política global. O Liberalismo e o Neoliberalismo enfatizam a cooperação e a interdependência, defendendo princípios democráticos e instituições internacionais. O Realismo e seus derivados focam na dinâmica do poder e na natureza anárquica do sistema internacional. Enquanto isso, o Funcionalismo propõe uma sociedade global mais integrada por meio de agências especializadas, e a Escola Inglesa equilibra as visões realista e liberal, destacando a importância de normas e regras. O Marxismo critica as disparidades econômicas perpetuadas pelo capitalismo, e o Construtivismo ressalta os construtos sociais que moldam o comportamento dos estados. As abordagens pós-positivistas, incluindo Teorias Críticas, Pós-Estruturalistas, Pós-Coloniais, Feministas e Queer, desafiam os paradigmas tradicionais, defendendo a inclusão de vozes e perspectivas diversas. Juntas, essas teorias fornecem uma estrutura abrangente para analisar as relações internacionais, permitindo uma compreensão mais profunda das complexidades das interações globais entre estados e atores não estatais.


Publicado

em

Tags:

Comentários

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *