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Os interesses distintos na Guerra Russo-Ucraniana

Um edifício explodido em Borodyanka, perto de Kiev.
Um edifício explodido em Borodyanka, perto de Kiev. Imagem por @stefits.

Após vários alertas das agências de inteligência ocidentais, a Rússia invadiu a Ucrânia em 2022, sob o pretexto de “desnazificar” o país e proteger a população de etnia russa de um “genocídio”. Os ucranianos não apenas negaram veementemente essas acusações, mas também prepararam uma resistência feroz contra a Rússia. Enquanto isso, os Estados Unidos e a União Europeia impuseram sanções aos russos e têm enviado ajuda humanitária e militar aos ucranianos. Diferentemente da ocupação da Crimeia em 2014, o conflito atual é marcado por combates mais intensos entre os beligerantes e respostas mais vigorosas das nações ocidentais. Isso sugere que as partes envolvidas têm interesses consideravelmente diferentes e não estão dispostas a fazer concessões. Portanto, um conflito prolongado parece estar acontecendo, em detrimento da estabilidade internacional.

Embora Vladimir Putin tenha criticado a presença de “nazistas” no governo ucraniano e tenha prometido proteger os eslavos na região de Donbas, parece que ele prega para os convertidos. A invasão em larga escala da Ucrânia é provavelmente uma resposta à expansão da OTAN e da União Europeia, bem como uma maneira de fortalecer a posição geopolítica da Rússia. Desde 2014, os russos controlam o Porto de Sebastopol e, com isso, têm acesso irrestrito a um porto de águas quentes. Todavia, a infraestrutura da Crimeia permanece intimamente ligada ao restante da Ucrânia — em especial, um canal de água é controlado pelo regime de Kiev, que se tem mostrado disposto a deixar a península ocupada sofrer com a escassez de água. Ao retaliar contra toda a Ucrânia, a Rússia pode ampliar seu domínio sobre o território e pressionar o governo inimigo a não se juntar às instituições ocidentais, que são encaradas com suspeita pelos russos.

Desde o ataque à Crimeia, entretanto, houve a intensificação do nacionalismo ucraniano. Mais recentemente, a liderança inspiradora de Volodymyr Zelensky e diversas histórias de guerra, como a dos soldados insultando marinheiros inimigos, contribuíram para reforçar esse sentimento. Além disso, a resistência contra a Rússia não está apenas no campo das ideias, mas também em ações concretas. O Exército Ucraniano e as Forças de Defesa Territoriais adquiriram experiência de combate significativa lutando em Donetsk e Luhansk. Ambos têm sido capazes de frustrar os avanços russos na maioria dos fronts de guerra e, enquanto isso, a chegada de novos carregamentos de armas renovou suas esperanças de vencer o conflito. À medida que a guerra avança, o nacionalismo ucraniano tende a intensificar-se ainda mais, desencorajando os adversários a prolongar os ataques ou, por outro lado, incentivando-os a realizar ataques ainda mais violentos.

Para os Estados Unidos e seus aliados europeus, é inadmissível deixar a Rússia ditar os desenvolvimentos geopolíticos em sua vizinhança, para não perturbar a segurança dos países da OTAN. No entanto, os países aliados têm pontos de vista diferentes e, portanto, adotam políticas diferentes com relação à guerra. Os estadunidenses veem a contenção da Rússia como necessária para alertar a China a manter-se afastada de Taiwan, e eles têm capacidade ociosa de produção no complexo militar-industrial e no setor energético. Consequentemente, os Estados Unidos têm tido grande disposição em sancionar os russos e envia armas para a Ucrânia. Por outro lado, os europeus têm de lidar com ondas de refugiados e dependem das reservas de petróleo e gás natural da Rússia. Por esses motivos, a Europa tem sido relutante em aumentar as tensões com o Kremlin. Essa postura pode mudar à medida que os ucranianos ganham apoio internacional e alguns estados se desvinculam das fontes de energia russas.

A atual invasão da Ucrânia pela Rússia mobilizou vários países contra esse claro desrespeito aos princípios da Carta da ONU. Na opinião da Rússia, o controle adequado sobre a Crimeia é uma questão inegociável, e a Ucrânia nunca deve aproximar-se do Ocidente. Os ucranianos têm-se defendido sozinhos, embora a ajuda estrangeira tenha sido essencial para seus esforços de guerra. Por fim, os países da OTAN são firmemente contrários às hostilidades, apesar de suas respectivas reações ao conflito terem sido um tanto diferentes. Nenhum dos envolvidos nesse conflito parece disposto a abdicar de seus principais interesses em prol de uma solução negociada. Dessa forma, ao menos por enquanto, a paz parece ilusória e a guerra aparentemente persistirá por um longo tempo.


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