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Resumo: Prisioneiros da Geografia: Europa Ocidental

Algumas bandeiras da União Europeia, um grande ator geopolítico desde sua fundação no século XX.
Algumas bandeiras da União Europeia, um grande ator geopolítico desde sua fundação no século XX. Imagem de Alexandre Lallemand.

Em 2015, o jornalista britânico Tim Marshall publicou Prisioneiros da Geografia: 10 mapas que explicam tudo o que você precisa saber sobre política global. Esse livro divide o mundo em dez regiões, analisando como características geográficas tais quais rios, montanhas e mares influenciam as decisões políticas, as estratégias militares e o desenvolvimento econômico. Tim Marshall tem sido elogiado por tornar um tópico complexo acessível e envolvente. Todavia, seu livro também enfrenta críticas por certas omissões. Por exemplo, alguns críticos indicam que, ao focar apenas na geografia, Marshall às vezes negligencia outros fatores significativos na tomada de decisões políticas. De qualquer forma, é útil aprender com as ideias em Prisioneiros da Geografia.

Abaixo, há um resumo do quarto capítulo do livro, que trata da Europa Ocidental. Você pode encontrar todos os resumos disponíveis deste livro, ou pode ler o resumo do capítulo anterior do livro, clicando nestes links.


A Europa, uma extensão ocidental da massa terrestre euroasiática, desempenhou um papel fundamental na formação do mundo moderno. Sua localização geográfica, abençoada com um clima favorável devido à Corrente do Golfo, foi essencial para seu desenvolvimento. Esse clima permitiu a produtividade agrícola o ano inteiro — mesmo no inverno, quando as temperaturas mais baixas ajudavam a controlar a propagação de doenças — acarretando crescimento agrícola e aumentos populacionais.

A geografia da região, marcada pela falta de barreiras naturais extremas como desertos ou grandes áreas congeladas, e a raridade de grandes desastres naturais nela, criaram um ambiente propício ao assentamento e ao desenvolvimento humano. Seus rios, longos e navegáveis, facilitaram o comércio e ajudaram na formação de grandes cidades, muitas das quais se transformaram nas capitais atuais. Essas vantagens geográficas contribuíram para que a Europa fosse o berço das primeiras nações industrializadas e o centro da guerra em escala industrial.

A paisagem da Europa, caracterizada por montanhas, rios e vales, explica a diversidade de seus estados-nação. Diferentemente dos Estados Unidos, que se expandiram rapidamente sob uma língua e cultura dominantes, a Europa se desenvolveu organicamente ao longo de milênios, resultando em um mosaico de países definidos por fronteiras geográficas e linguísticas. A Península Ibérica, por exemplo, evoluiu para Espanha e Portugal, influenciada por barreiras naturais como os Pireneus. De maneira semelhante, a formação da França foi influenciada por suas fronteiras naturais.

A separação dos principais rios da Europa também desempenha um papel na geografia política do continente. Esses rios, atuando como fronteiras naturais, fomentaram esferas econômicas de influência e levaram ao surgimento de grandes cidades urbanas e capitais. O Rio Danúbio é um exemplo primordial, influenciando vários países ao longo de seu curso e servindo como uma rota comercial crucial e fronteira através de vários impérios históricos.

A disparidade econômica entre o norte e o sul da Europa pode ser rastreada até suas respectivas geografias. O norte da Europa, tendo se industrializado mais cedo, beneficiou-se de oportunidades comerciais mais prósperas e sucesso econômico. Esse contraste é ainda mais evidenciado pelos desafios enfrentados por países do sul da Europa, como Espanha e Grécia, prejudicados por barreiras geográficas e condições agrícolas menos favoráveis.

A posição única da França como uma potência tanto do norte quanto do sul, com vastas terras férteis e rios interconectados, facilitou sua unificação e centralização do poder. Isso contrastou com países do sul da Europa, como Itália e Espanha, onde desafios geográficos perpetuaram disparidades econômicas e de desenvolvimento.

A luta da Espanha pela estabilidade econômica está enraizada em sua geografia, com planícies férteis limitadas e rotas comerciais internas desafiadoras. Seu isolamento durante a ditadura de Franco atrasou ainda mais sua integração na Europa moderna. Apesar de ingressar na União Europeia e de um progresso inicial, a Espanha continua enfrentando desafios econômicos.

A Grécia enfrenta limitações geográficas semelhantes, com um litoral acidentado e terras agrícolas limitadas, restringindo seu desenvolvimento econômico. Sua localização estratégica, embora benéfica para o comércio marítimo, também exigiu gastos significativos em defesa devido a conflitos históricos com a Turquia vizinha. O continente grego, protegido por montanhas, faz parte de uma nação com cerca de 1.400 ilhas, das quais 200 são habitadas. A vastidão desse território exige uma marinha forte para patrulhamento, levando a despesas militares que sobrecarregam as finanças da Grécia. Esse fardo financeiro foi um pouco aliviado durante a Guerra Fria, quando os EUA e o Reino Unido ajudaram a financiar o exército grego para conter a influência soviética no Egeu e no Mediterrâneo. No entanto, esse apoio cessou com o fim da Guerra Fria, mas a Grécia continuou com seus pesados gastos militares.

A crise financeira que atingiu a Europa em 2008 destacou ainda mais a divisão geográfica dentro da Zona do Euro. Países do norte da Europa, principalmente a Alemanha, lideraram o chamado por medidas de austeridade nos planos de resgate, provocando uma reação negativa de nações do sul, como a Grécia. Essa situação reacendeu estereótipos e tensões históricas, com a mídia grega frequentemente retratando a Alemanha de maneira negativa, enraizada em conflitos históricos.

Na Grécia, há um sentimento de resistência contra as medidas de austeridade impostas pelos países do norte, com muitos as vendo como uma infração à soberania nacional. Esse sentimento reflete as crescentes fissuras no conceito de uma Europa unificada, especialmente porque crises financeiras deixaram países como a Grécia se sentindo semi-desvinculados do resto da Europa Ocidental.

Gerações pós-Segunda Guerra Mundial na Europa se acostumaram com a paz, muitas vezes achando difícil imaginar o oposto. Todavia, a região não está imune a conflitos, especialmente com tensões subjacentes entre a Europa e a Rússia. A Polônia, por exemplo, é um país moldado por sua história e localização geográfica. Ela se situa em um estreito corredor entre a costa do Báltico e as Montanhas Cárpatos, uma localização estratégica militar historicamente propensa a invasões e mudanças de fronteiras. A relação tensa da Polônia com a Alemanha e a Rússia influencia sua política externa, e conflitos recentes, como a crise na Ucrânia, reacenderam antigos medos.

A aliança da Polônia com a Grã-Bretanha e os Estados Unidos, especialmente após a Segunda Guerra Mundial, destaca suas decisões estratégicas em política externa. Após ingressar na OTAN em 1999, a Polônia, junto com outros ex-países do Pacto de Varsóvia, aproximou a Aliança de Moscou, marcando uma mudança no equilíbrio de poder na Europa.

A região dos Bálcãs, livre das restrições de império, é caracterizada por seu terreno montanhoso e estados pequenos e diversos. A área tem sido historicamente um ponto de conflito e continua sendo uma arena de influência internacional, com a UE, OTAN, Turquia e Rússia todos disputando controle. Países como Albânia, Bulgária, Croácia, Romênia e Eslovênia optaram por se alinhar com a OTAN e a UE, enquanto a Sérvia ainda sente o puxão da Rússia devido a laços religiosos e étnicos compartilhados.

Na Escandinávia, o ressurgimento da Rússia desencadeou debates sobre alianças militares. A Suécia, tradicionalmente neutra, enfrentou um alerta quando jatos russos realizaram um ataque simulado, levando a discussões sobre aderir à OTAN. Esse debate é influenciado pela postura agressiva da Rússia em relação à potencial expansão da OTAN na região.

A unidade da União Europeia (UE) e da OTAN é crucial para enfrentar os desafios que enfrentam, sendo a relação entre a França e a Alemanha particularmente vital. A localização estratégica da França, com suas fronteiras naturais e acesso a rotas comerciais, historicamente foi uma vantagem. Contudo, o surgimento de uma Alemanha unificada mudou a dinâmica. Anteriormente, a principal vulnerabilidade geográfica da França era a Planície do Norte Europeu para o nordeste, fazendo fronteira com a Alemanha. Essa área tornou-se um ponto focal de contenda nos anos subsequentes.

O conceito de uma Alemanha unificada remonta a séculos, evoluindo do Sacro Império Romano e depois da Confederação Alemã formada no Congresso de Viena em 1815. Esse processo culminou na unificação da Alemanha em 1871, alterando dramaticamente o equilíbrio de poder na Europa. A unificação da Alemanha, anunciada no Palácio de Versalhes, significou uma violação na defesa anteriormente impenetrável da França ao longo da Planície do Norte Europeu. Essa área se tornaria um ponto recorrente de conflito nos anos que se seguiram.

A posição geográfica da Alemanha apresentou seus próprios desafios. Situada na plana Planície do Norte Europeu, a Alemanha estava entre a França a oeste e a Rússia a leste. Essa posição vulnerável alimentou temores de um ataque em duas frentes, uma preocupação que influenciou a estratégia militar alemã e contribuiu para o início de conflitos catastróficos.

O intrincado jogo de medos e alianças na Europa, especialmente após a formação da Tríplice Entente em 1907, complicou ainda mais a situação. A resposta da Alemanha ao seu dilema geográfico e ameaças percebidas frequentemente envolvia ataques preventivos, particularmente contra a França.

A resolução da chamada “Questão Alemã” veio após os efeitos devastadores da Segunda Guerra Mundial. A presença de um poder dominante, os Estados Unidos, por meio da OTAN, e o estabelecimento da União Europeia, marcaram uma mudança de estratégia. Uma Europa cansada da guerra embarcou em um experimento inédito de confiança e cooperação. A UE foi projetada para unir a França e a Alemanha tão intimamente que um conflito entre elas se tornasse impensável. Essa abordagem tem sido em grande parte bem-sucedida, criando uma união pacífica e economicamente poderosa.

A Alemanha, em particular, prosperou nesse novo ambiente. O país que antes temia sua posição geográfica transformou-a em uma vantagem. A Alemanha se tornou uma potência manufatureira, substituindo conquistas militares por expansão comercial. Produtos alemães, renomados por sua qualidade e com a etiqueta “Feito na Alemanha”, são transportados por toda a Europa e o mundo através de rotas comerciais eficientes. Essa mudança de poder militar para econômico não só beneficiou a Alemanha, mas também contribuiu para a estabilidade e prosperidade de toda a região europeia.

A União Europeia, que começou como a Comunidade Europeia do Carvão e do Aço de seis nações em 1951, expandiu-se para um bloco de vinte e oito nações com a ideologia de “união cada vez mais estreita”. Entretanto, essa ideologia enfrentou desafios após a primeira grande crise financeira que atingiu a União, revelando tensões subjacentes e laços enfraquecidos entre os Estados-membros. Essa situação ecoou a noção de Robert Kaplan da “revanche da geografia”, destacando o impacto duradouro dos fatores geográficos em alianças políticas e conflitos.

A adoção do euro por dezenove dos vinte e oito países da UE complicou ainda mais as coisas. Embora todos os membros, exceto Dinamarca e Reino Unido, se comprometeram a adotar o euro quando atendessem aos critérios necessários, ficou evidente que muitos países não estavam preparados para a transição em sua inauguração em 1999. Questões como dívida, desemprego e inflação deveriam estar dentro de certos limites, mas alguns países, notavelmente a Grécia, deturparam suas situações econômicas. Apesar desses problemas serem conhecidos, eles foram ignorados devido à importância ideológica do euro.

A crise econômica de 2008 testou severamente a Zona do Euro, com nações mais ricas tendo que socorrer as menos abastadas, levando a significativas tensões internas. Essa crise trouxe à luz as profundas divisões dentro da União Europeia, particularmente ao longo da divisão norte-sul, e levantou questões sobre a viabilidade de uma união cada vez mais estreita. Preocupações foram levantadas de que, se a União Europeia se fragmentasse, poderia reacender antigos temores sobre o papel da Alemanha na Europa, especialmente dado seu status como a nação mais populosa e economicamente dominante da UE.

A Alemanha, ciente de seu papel crítico na Europa, está empenhada em manter a unidade da UE. Qualquer fragmentação da União poderia levar a um ressurgimento de temores históricos sobre a Alemanha e seria prejudicial à sua economia como a terceira maior exportadora do mundo. O país tornou-se um poder indispensável na Europa, particularmente em questões econômicas, onde exerce influência significativa. No entanto, a Alemanha é muito mais reservada na política externa global, ainda profundamente consciente das sombras lançadas pela Segunda Guerra Mundial.

O envolvimento militar da Alemanha tem sido cauteloso e contido pós-Segunda Guerra Mundial, participando apenas minimamente em conflitos internacionais. Seu envolvimento diplomático mais notável nos tempos recentes foi na Ucrânia durante a crise de 2014. A Alemanha desempenhou um papel fundamental nos eventos que levaram à deposição do Presidente Yanukovych da Ucrânia e foi crítica em relação à anexação da Crimeia pela Rússia. Todavia, a resposta da Alemanha foi mais contida em comparação com outros países, como o Reino Unido, em parte devido à sua dependência da energia russa.

Enquanto a Alemanha está firmemente ancorada na Europa Ocidental através da UE e da OTAN, sua posição geográfica permite uma possível mudança de foco em direção à Europa Oriental, particularmente na formação de laços mais estreitos com Moscou. Essa possibilidade destaca a influência contínua da geografia na paisagem política da Europa, com a Alemanha no centro dessas dinâmicas complexas.

O Reino Unido historicamente desempenhou um papel crucial na política europeia, frequentemente engajando-se de sua posição através do Canal da Mancha para garantir que nenhum outro poder europeu superasse sua influência. Esse envolvimento foi consistente, desde campos de batalha históricos até as arenas diplomáticas da União Europeia. O Reino Unido frequentemente tenta equilibrar o poder dentro da UE, seja inserindo-se em alianças franco-alemãs ou formando alianças com estados menores da UE para influenciar políticas.

Geograficamente, a posição do Reino Unido como uma ilha proporcionou várias vantagens, incluindo terras agrícolas férteis, rios navegáveis e ricas águas pesqueiras. Essa separação da Europa continental historicamente protegeu o Reino Unido do impacto total das guerras e revoluções continentais. A segurança relativa do Reino Unido ao longo dos séculos é considerada como tendo fomentado mais liberdade e menos despotismo em comparação com seus vizinhos europeus, contribuindo para formas anteriores de democracia como a Magna Carta e as Provisões de Oxford.

As vantagens geográficas do Reino Unido foram fundamentais na construção de uma poderosa marinha e no desencadeamento da Revolução Industrial, levando à expansão do Império Britânico. Embora a influência global da Grã-Bretanha tenha diminuído, sua localização estratégica continua a oferecer vantagens, como o controle sobre o gap GIUK, um ponto estratégico de estrangulamento marítimo. O referendo de independência da Escócia em 2014 levantou preocupações sobre a perda de vantagens estratégicas no Atlântico Norte, destacando a preocupação contínua do Reino Unido em manter seu status global.

Quanto à OTAN e à UE, ambas as organizações estão mostrando sinais de tensão. Se falharem em se adaptar, o futuro poderia ver um retorno a uma Europa de estados-nação soberanos buscando alianças em um sistema de equilíbrio de poder. Esse cenário poderia reacender temores históricos de cerco e rivalidade, particularmente para países como Alemanha e França.

A França, em particular, enfrenta um dilema. Tendo trabalhado para conter a Alemanha dentro da UE, agora se encontra como parceira júnior na relação. A França é capaz de uma política externa independente e mantém uma presença militar significativa, mas seu poder está intrinsecamente ligado à estabilidade da UE e à sua relação com a Alemanha. A Alemanha, por outro lado, tem uma alternativa potencial na Rússia como parceira.

O fim da Guerra Fria levou a uma redução nos gastos militares em toda a Europa, mas conflitos recentes como a guerra russo-georgiana e a anexação da Crimeia refocaram a atenção na preparação militar. As nações europeias estão agora reconsiderando seus orçamentos militares em meio a tensões geopolíticas renovadas.

Robert Kagan, em seu livro “De Paraíso e Poder”, argumenta que, embora os europeus ocidentais possam viver em um paraíso relativamente pacífico, eles não devem esquecer as realidades da política de poder fora de suas fronteiras. As lições da história e a influência constante da geografia nos lembram que a paz e a estabilidade exigem esforço e vigilância contínuos.

Helmut Kohl, refletindo sobre suas experiências na Segunda Guerra Mundial, enfatizou a importância de nutrir o experimento pós-guerra em confiança europeia. Em 2012, ele expressou preocupações de que a atual geração de líderes pudesse perder de vista o valor da unidade europeia, enfatizando que o principal benefício, apesar de todos os desafios, é a paz. Esse sentimento destaca a necessidade contínua de manter e fomentar a unidade e cooperação estabelecidas na Europa pós-guerra.


Você pode ler o resumo do próximo capítulo do livro clicando neste link.


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