
Em 19 de setembro de 2023, o presidente dos Estados Unidos, Joseph Biden, discursou no Debate Geral da Assembleia Geral da ONU, em Nova Iorque. Estes foram os principais pontos abordados por ele em seu discurso:
- Assim como os EUA e o Vietnã superaram suas divergências depois de uma guerra e construíram uma parceria, os países podem reunir-se e resolver os desafios globais.
- Os EUA sabem que têm o dever de liderar o mundo neste “momento crítico”, porque sabem que “nenhuma nação poderá enfrentar os desafios de hoje em dia sozinha” e que o futuro dos EUA está vinculado ao futuro do mundo como um todo.
- As Nações Unidas tiveram muitos sucessos até o momento, como tirar 1 bilhão de pessoas da pobreza extrema e enfrentar crises sanitárias. No entanto, a organização precisa ser reformada, para lidar com desafios mais complexos. Por isso, os EUA apoiam expandir o número de membros permanentes e não permanentes do Conselho de Segurança da ONU.
- Os EUA também estão focados em reformar e reforçar outras instituições multilaterais: o Banco Mundial, os bancos de desenvolvimento, o FMI, a OMC, o G7 e o G20 .
- Os EUA engajam-se em parcerias porque têm uma “visão positiva do nosso futuro compartilhado”. Exemplos de parcerias incluem a Declaração de Los Angeles sobre Migração e Proteção, a Cúpula da Democracia, o Quad, e a Parceria para Cooperação Atlântica. Além disso, há uma ênfase em criar corredores de infraestrutura, como o Corredor de Lobito na África e os esforços para conectar a Índia à Europa, pelo Oriente Médio.
- Não há a intenção de “dissociar” os EUA da China. Na verdade, o objetivo é diminuir os riscos na associação entre ambos e cooperar com os chineses em temáticas comuns. Por outro lado, atos chineses de “agressão e intimidação” serão repelidos, por exemplo, por meio de operações de liberdade de navegação.
- A mudança climática é uma ameaça existencial e está sendo lidada como tal. Os Estados Unidos comprometeram-se a financiar os países em desenvolvimento, para que eles implementem o Acordo de Paris, e a ajudar os pequenos países insulares.
- O governo Biden comprometeu-se, também, a financiar o progresso do desenvolvimento, visando a impulsionar os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável . Isso inclui tratar dos países sobrecarregados por dívidas impagáveis, dos reveses provocados pela pandemia de Covid-19, e do progresso de mulheres e meninas.
- Em termos de paz e segurança, os Estados Unidos continuam comprometidos com a não proliferação nuclear e com a destruição dos arsenais de armas químicas. No entanto, a Coreia do Norte e o Irã devem ser criticados por suas ações, assim como a Rússia, que tem inteira responsabilidade pela guerra na Ucrânia e tem o poder de encerrá-la.
- Tem havido violações aos direitos humanos, incluindo em Xinjiang (China), em Teerã (Irã) e em Darfur (Sudão do Sul), e elas devem ser condenadas. Também têm havido abusos contra minorias: mulheres e meninas, grupos indígenas, e pessoas LGBTQI+. Lutar contra essas violações é algo exigido pela Declaração Universal dos Direitos Humanos e isso permitirá trazer maior progresso humano.
Análise do Discurso
Ao contrário do governo Trump, o de Joe Biden reconhece o papel dos Estados Unidos como superpotência não como uma desculpa para o isolacionismo, porém como o motivo para engajar-se no multilateralismo. Seu objetivo é liderar pelo exemplo, e princípios como o de soberania, integridade territorial e Direitos Humanos foram enfatizados.
A condenação estadunidense das violações e dos abusos perpetrados por seus rivais era esperada. Com isso, ouvimos comentários enérgicos sobre a invasão da Ucrânia, descrita como inteiramente de culpa da Rússia, e como uma falha do sistema de segurança coletiva consagrado na Carta das Nações Unidas. Similarmente, houve breves alusões aos atos chineses de “agressão e intimidação” — uma referência às disputas no Mar do Sul da China — e às violações aos direitos humanos em Xinjiang. O Irã e a Coreia do Norte, adversários tradicionais em temas de segurança internacional, foram citados também.
Todavia, na maior parte do discurso, o que saltava aos olhos era a insistência de Biden em reformar, financiar e reforçar as instituições multilaterais. Talvez não se via um governo estadunidense estar tão disposto a abrir os seus cofres desde o Plano Marshall, quando os EUA enviaram bilhões de dólares para reconstruir a Europa depois da Segunda Guerra Mundial. Segundo Biden, praticamente qualquer coisa poderá contar com a assistência dos EUA: o Banco Mundial, o FMI, os bancos de desenvolvimento, as nações em desenvolvimento, os projetos de mitigação da mudança climática, as iniciativas de segurança alimentar… parece ser bom demais para ser verdade, e provavelmente é isso mesmo.
Os EUA têm enfrentado uma crise inflacionária e o governo Biden sofre a oposição de uma Câmara dos Deputados controlada pelos republicanos, e de uma candidatura presidencial de Donald Trump e de outros concorrentes republicanos. É amplamente improvável que tenha dinheiro fácil saindo dos cofres do Tesouro dos EUA, porém a disposição de Biden em financiar múltiplas iniciativas pode ser compreendida como uma maneira de contrastar a China. Os chineses têm promovido a Iniciativa Cinturão e Rota, que consiste em investimentos em infraestrutura ao redor do mundo, e os EUA parecem querer fazer algo parecido, com atraso.
Com a exceção do anúncio de grandes investimentos e da tentativa de reformar as instituições internacionais, os Estados Unidos tinham pouco a dizer. Joe Biden deve ser exaltado por suas propostas para o futuro, mas esperava-se mais dele.
Íntegra do Discurso
Senhor Presidente, Senhor Secretário-Geral e meus colegas líderes,
Há cerca de uma semana, estive do outro lado do mundo, no Vietnã, em um solo outrora ensanguentado pela guerra.
Encontrei um pequeno grupo de veteranos, norte-americanos e vietnamitas, e testemunhei a troca de artefatos pessoais daquela guerra — carteiras de identidade e um diário. Foi profundamente comovente ver a reação dos soldados vietnamitas e norte-americanos.
Um marco de 50 anos de trabalho árduo de ambos os lados para enfrentar os legados dolorosos da guerra e escolher — escolher trabalhar juntos por paz e um futuro melhor.
Nada nessa jornada foi inevitável. Durante décadas, teria sido impensável para um presidente dos Estados Unidos estar em Hanói ao lado de um líder vietnamita e anunciar um compromisso mútuo com o mais alto nível de parceria entre países. Mas é um lembrete poderoso de que nossa história não precisa determinar nosso futuro.
Com liderança concentrada e esforço cuidadoso, adversários podem se tornar parceiros, desafios imensos podem ser superados e feridas profundas podem cicatrizar.
Portanto, nunca devemos esquecer isso. Quando escolhemos ficar juntos e reconhecer as esperanças comuns que unem toda a humanidade, temos em nossas mãos o poder — o poder de curvar o arco da história.
Meus colegas líderes, estamos reunidos mais uma vez em um ponto de inflexão da história mundial, com os olhos do mundo voltados para todos vocês — todos nós.
Como presidente dos Estados Unidos, entendo o dever que meu país tem de liderar neste momento crítico; de trabalhar com países em todas as regiões, conectando-os em uma causa comum; de unir-se a parceiros que compartilham uma visão comum para o futuro do mundo, onde nossas crianças não passem fome e todos tenham acesso a cuidados de saúde de qualidade, onde os trabalhadores sejam fortalecidos e nosso meio ambiente seja protegido, onde empreendedores e inovadores em todos os lugares possam acessar oportunidades em todos os lugares, onde os conflitos sejam resolvidos pacificamente e os países possam traçar seu próprio caminho.
Os Estados Unidos buscam um mundo mais seguro, mais próspero e mais justo para todas as pessoas porque sabemos que nosso futuro está ligado ao de vocês. Permitam-me repetir: Sabemos que nosso futuro está ligado ao de vocês.
E nenhuma nação pode enfrentar os desafios de hoje sozinha.
As gerações que nos antecederam organizaram este órgão, as Nações Unidas, e construíram instituições financeiras internacionais e organismos multilaterais e regionais para ajudar a enfrentar os desafios de sua época.
Nem sempre foi perfeito — nunca foi perfeito. Mas, trabalhando juntos, o mundo fez avanços notáveis e inegáveis que melhoraram a vida de todas as pessoas.
Evitaram a renovação de um conflito global enquanto tiravam mais de 1 bilhão de pessoas — 1 bilhão de pessoas — da pobreza extrema.
Juntos, ampliamos o acesso à educação para milhões de crianças.
Salvamos dezenas de milhões de vidas que, de outra forma, teriam sido perdidas por doenças evitáveis e tratáveis como sarampo, malária e tuberculose.
As infecções e mortes por HIV/AIDS despencaram em grande parte devido ao trabalho do PEPFAR em mais de 55 países, salvando mais de 25 milhões de vidas.
Isso é uma prova profunda do que podemos alcançar quando agimos juntos, enfrentando desafios difíceis, e uma advertência de que devemos acelerar com urgência nosso progresso para que ninguém fique para trás, porque muitas pessoas estão sendo deixadas para trás.
As instituições que construímos juntos no final da Segunda Guerra Mundial são a base duradoura do nosso progresso, e os Estados Unidos estão comprometidos em sustentá-las.
E neste ano, temos orgulho de ter retornado à UNESCO. Mas também reconhecemos que, para enfrentar os novos desafios, nossas instituições e abordagens com décadas de existência devem ser atualizadas para acompanhar o ritmo do mundo.
Precisamos incorporar mais liderança e capacidade existentes em todos os lugares, especialmente de regiões que nem sempre foram totalmente incluídas. Precisamos lidar com desafios mais interconectados e mais complexos. E devemos garantir que estamos entregando resultados para as pessoas em todos os lugares, não apenas em alguns lugares. Em todos os lugares.
Resumindo, são urgentemente necessários resultados do século XXI — resultados do século XXI para avançarmos. E isso começa com as Nações Unidas — começa bem aqui, nesta sala.
No meu discurso neste órgão no ano passado, anunciei que os Estados Unidos apoiariam a expansão do Conselho de Segurança, aumentando o número de membros permanentes e não permanentes.
Os Estados Unidos realizaram consultas sérias com muitos Estados-membros. E continuaremos a fazer nossa parte para avançar os esforços de reforma, buscar pontos de convergência e alcançar progresso no próximo ano.
Precisamos ser capazes de quebrar o impasse que frequentemente impede o progresso e bloqueia o consenso no Conselho. Precisamos de mais vozes e mais perspectivas à mesa.
As Nações Unidas devem continuar preservando a paz, prevenindo conflitos e aliviando o sofrimento humano. E apoiamos as nações que assumem a liderança de novas formas e buscam avanços em questões difíceis.
Por exemplo, no Haiti, a Comunidade do Caribe está facilitando um diálogo dentro da sociedade haitiana.
Agradeço ao presidente Ruto, do Quênia, por sua disposição em servir como nação líder de uma missão de apoio à segurança respaldada pela ONU. Conclamo o Conselho de Segurança a autorizar essa missão agora. O povo haitiano não pode esperar muito mais.
Os Estados Unidos estão trabalhando em todas as frentes para tornar as instituições globais mais responsivas, mais eficazes e mais inclusivas.
Por exemplo, demos passos significativos para reformar e expandir o Banco Mundial, ampliando seu financiamento para países de baixa e média renda, para que possa ajudar a impulsionar o progresso rumo ao cumprimento dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável e lidar melhor com desafios interconectados, como a mudança climática e a fragilidade.
Sob a nova presidência do Banco Mundial, a mudança já está em curso.
No mês passado, pedi ao Congresso dos Estados Unidos recursos adicionais para expandir o financiamento do Banco Mundial em 25 bilhões de dólares. E no G20, reunimos as principais economias do mundo para mobilizar ainda mais financiamento. Coletivamente, podemos proporcionar um impulso transformador aos empréstimos do Banco Mundial.
E como os bancos multilaterais de desenvolvimento estão entre as melhores ferramentas que temos para mobilizar investimentos transparentes e de alta qualidade nos países em desenvolvimento, reformar essas instituições pode ser algo decisivo.
Da mesma forma, propusemos garantir que os países em desenvolvimento tenham uma voz forte e representatividade no Fundo Monetário Internacional.
Vamos continuar nossos esforços para reformar a Organização Mundial do Comércio e preservar a concorrência, a abertura, a transparência e o Estado de Direito, ao mesmo tempo em que a capacitamos para enfrentar melhor as prioridades atuais, como promover a transição energética limpa, proteger os trabalhadores e fomentar o crescimento inclusivo e sustentável.
E neste mês, fortalecemos o G20 como um fórum vital, acolhendo a União Africana como membro permanente.
Mas atualizar e fortalecer nossas instituições é apenas metade da tarefa. Também precisamos forjar novas parcerias e enfrentar novos desafios.
Tecnologias emergentes, como a inteligência artificial, têm um enorme potencial e também grandes riscos. Precisamos garantir que sejam usadas como ferramentas de oportunidade, e não como instrumentos de opressão.
Junto com líderes ao redor do mundo, os Estados Unidos estão trabalhando para fortalecer regras e políticas, de modo que as tecnologias de IA sejam seguras antes de serem lançadas ao público; para garantir que governemos essa tecnologia — e não o contrário, que ela nos governe.
Estou comprometido a trabalhar através desta instituição e de outros órgãos internacionais, bem como diretamente com líderes ao redor do mundo — inclusive com nossos concorrentes — para garantir que aproveitemos o poder da inteligência artificial para o bem, ao mesmo tempo em que protegemos nossos cidadãos dos riscos mais profundos.
Isso exigirá o esforço de todos nós. Tenho trabalhado nisso há algum tempo, como muitos de vocês. Vai exigir o empenho de todos para que façamos o certo.
Em todas as regiões do mundo, os Estados Unidos estão mobilizando alianças sólidas, parcerias versáteis, propósito comum e ação coletiva para trazer novas abordagens aos nossos desafios compartilhados.
Aqui no Hemisfério Ocidental, unimos 21 nações em apoio à Declaração de Los Angeles sobre Migração e Proteção, lançando uma abordagem regional para um desafio regional, para melhor fazer cumprir as leis e proteger — proteger os direitos dos migrantes.
No Indo-Pacífico, fortalecemos nossa parceria Quad com a Índia, o Japão e a Austrália para oferecer progresso concreto às pessoas da região em tudo, de vacinas à segurança marítima.
Ontem mesmo, após dois anos de consultas e diplomacia, os Estados Unidos reuniram dezenas de nações de quatro continentes para estabelecer uma nova Parceria para a Cooperação Atlântica, para que os países costeiros do Atlântico possam cooperar melhor em ciência, tecnologia, proteção ambiental e desenvolvimento econômico sustentável.
Reunimos quase 100 países em uma coalizão global para combater o fentanil e drogas sintéticas, para reduzir o custo humano dessa aflição. E é real.
E à medida que a natureza das ameaças terroristas evolui e a geografia se expande para novos locais, estamos trabalhando com nossos parceiros para aplicar capacidades que interrompam planejamentos, desarticulem redes e protejam todos os nossos povos.
Além disso, realizamos a Cúpula pela Democracia para fortalecer instituições democráticas, combater a corrupção e rejeitar a violência política.
E neste momento em que governos democraticamente eleitos têm sido derrubados em rápida sucessão na África Ocidental e Central, somos lembrados de que esse trabalho é mais urgente e importante do que nunca.
Estamos com a União Africana, com a CEDEAO e com outros organismos regionais no apoio à ordem constitucional. Não recuaremos dos valores que nos tornam fortes. Defenderemos a democracia — nossa melhor ferramenta para enfrentar os desafios que enfrentamos ao redor do mundo. E estamos trabalhando para mostrar como a democracia pode entregar resultados concretos na vida das pessoas.
A Parceria para Infraestrutura e Investimento Global aborda a imensa necessidade e oportunidade de investimento em infraestrutura nos países de baixa e média renda, especialmente na África, América Latina e Sudeste Asiático.
Por meio de investimentos públicos estratégicos e direcionados, podemos desbloquear montantes enormes de financiamento do setor privado.
O G7 se comprometeu a trabalhar com parceiros para mobilizar coletivamente 600 bilhões de dólares em financiamento de infraestrutura até 2027. Os Estados Unidos já mobilizaram mais de 30 bilhões até o momento.
Estamos promovendo uma corrida ao topo com projetos que têm altos padrões para os trabalhadores, o meio ambiente e a propriedade intelectual, evitando a armadilha da dívida insustentável.
Estamos concentrando esforços em corredores econômicos que maximizem o impacto do nosso investimento coletivo e entreguem resultados significativos em vários países e setores.
Por exemplo, o Corredor de Lobito se estenderá pela África, do porto ocidental de Angola até a RDC e Zâmbia, promovendo a conectividade regional e fortalecendo o comércio e a segurança alimentar no continente.
Da mesma forma, o esforço inovador que anunciamos no G20 para conectar a Índia à Europa via Emirados Árabes Unidos, Arábia Saudita, Jordânia e Israel fomentará oportunidades e investimentos entre dois continentes.
Isso faz parte do nosso esforço para construir um Oriente Médio mais sustentável e integrado. Demonstra como a normalização e a conexão econômica cada vez maior de Israel com seus vizinhos estão gerando impactos positivos e práticos, mesmo enquanto continuamos trabalhando incansavelmente para apoiar uma paz justa e duradoura entre israelenses e palestinos — dois Estados para dois povos.
Agora, quero ser claro: Nenhuma dessas parcerias tem como objetivo conter qualquer país. Trata-se de uma visão positiva para o nosso futuro compartilhado.
Quando se trata da China, quero ser claro e coerente. Buscamos administrar de forma responsável a competição entre nossos países para que ela não escale para um conflito. Como já disse: “Somos a favor da redução de riscos, não da dissociação da China.”
Vamos reagir contra agressões e intimidações e defender as regras do jogo — da liberdade de navegação ao sobrevoo, até a equidade econômica — que ajudaram a garantir segurança e prosperidade por décadas.
Mas também estamos prontos para trabalhar em conjunto com a China em questões onde o progresso depende dos nossos esforços comuns.
Em nenhum lugar isso é mais crítico do que diante da crise climática em aceleração. Vemos isso em toda parte: ondas de calor recorde nos Estados Unidos e na China; incêndios devastando a América do Norte e o sul da Europa; o quinto ano consecutivo de seca no Chifre da África; enchentes trágicas na Líbia — meu coração está com o povo líbio — que mataram milhares — milhares de pessoas.
Juntas, essas imagens contam uma história urgente sobre o que nos aguarda se não reduzirmos nossa dependência dos combustíveis fósseis e começarmos a tornar o mundo mais resiliente às mudanças climáticas.
Desde o primeiro dia, o meu governo, os Estados Unidos, trataram essa crise como uma ameaça existencial desde o momento em que assumimos o cargo — não apenas para nós, mas para toda a humanidade.
No ano passado, sancionei a maior iniciativa de investimento já feita, em qualquer lugar do mundo, na luta contra a crise climática, ajudando a mover a economia global rumo a um futuro de energia limpa.
Também estamos trabalhando com o Congresso para quadruplicar nosso financiamento climático e ajudar os países em desenvolvimento a alcançarem suas metas climáticas e a se adaptarem aos impactos das mudanças climáticas.
E neste ano, o mundo está no caminho para cumprir o fundo climático — a meta de financiamento climático assumida no Acordo de Paris: levantar coletivamente 100 bilhões de dólares. Mas precisamos de mais investimento tanto do setor público quanto do setor privado, especialmente em lugares que pouco contribuíram para as emissões globais, mas enfrentam alguns dos piores efeitos das mudanças climáticas, como as Ilhas do Pacífico.
Os Estados Unidos estão trabalhando diretamente com o Fórum das Ilhas do Pacífico para ajudar essas nações a se adaptarem e desenvolverem resiliência diante dos impactos climáticos, mesmo enquanto lideramos o esforço para construir parcerias novas e inovadoras que enfrentem os desafios globais em todas as frentes.
Da First Movers Coalition, que está mobilizando bilhões em compromissos do setor privado para criar demanda de mercado por produtos verdes em setores com alta emissão de carbono, como cimento, transporte marítimo, aviação e caminhões; até a Missão de Inovação Agrícola para o Clima, que está integrando agricultores à solução climática e tornando nosso suprimento alimentar mais resiliente aos choques climáticos; e o Compromisso Global sobre o Metano, agora endossado por mais de 150 países, que amplia nosso foco além das metas de emissão de carbono para reduzir em 30% nesta década os gases de efeito estufa mais potentes da atmosfera: tudo isso está ao nosso alcance.
Precisamos trazer o mesmo compromisso, urgência e ambição à medida que trabalhamos juntos para alcançar os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável de 2030. Esses objetivos foram adotados nas Nações Unidas em 2015 como um roteiro para melhorar vidas ao redor do mundo.
Mas a dura verdade é que, após décadas de progresso, o mundo perdeu terreno nos últimos anos por causa da COVID-19, de conflitos e de outras crises.
Os Estados Unidos estão comprometidos a fazer sua parte para que possamos retomar o caminho certo.
Ao todo, nos dois primeiros anos do meu governo, os Estados Unidos investiram mais de 100 bilhões de dólares para impulsionar o progresso no desenvolvimento, reforçar a segurança alimentar, ampliar o acesso à educação em escala mundial, fortalecer os sistemas de saúde e combater doenças. E ajudamos a mobilizar bilhões a mais em investimentos do setor privado.
Mas, para acelerar nosso progresso em direção aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável, todos nós precisamos fazer mais. Precisamos construir novas parcerias que mudem a forma como enfrentamos esse desafio e que desbloqueiem trilhões em financiamento adicional para o desenvolvimento, aproveitando todas as fontes. Precisamos preencher lacunas e corrigir as falhas do nosso sistema atual, expostas pela pandemia.
Precisamos garantir que mulheres e meninas se beneficiem plenamente do nosso progresso.
Também devemos fazer mais para lidar com a dívida que limita tantos países de baixa e média renda. Quando as nações são forçadas a pagar dívidas insustentáveis em detrimento das necessidades do seu próprio povo, torna-se mais difícil para elas investirem em seus próprios futuros.
E, ao trabalharmos juntos para nos recuperarmos dos choques globais, os Estados Unidos continuarão a ser o maior doador individual de assistência humanitária neste momento de necessidade sem precedentes no mundo.
Pessoal, cooperação e parceria — esses são os pilares do progresso frente aos desafios que afetam a todos nós e a base da liderança global responsável.
Não precisamos — não precisamos concordar em tudo para continuar avançando em questões como o controle de armas — uma pedra angular da segurança internacional.
Após mais de 50 anos de progresso sob o Tratado de Não-Proliferação, a Rússia está destruindo acordos históricos de controle de armas, incluindo o anúncio da suspensão do New START e a retirada do Tratado sobre Forças Armadas Convencionais na Europa.
Considero isso irresponsável, e isso torna o mundo inteiro menos seguro.
Os Estados Unidos continuarão buscando, de boa-fé, reduzir a ameaça de armas de destruição em massa e liderar pelo exemplo, não importa o que esteja acontecendo no mundo.
Neste ano, destruímos com segurança as últimas munições químicas do estoque dos Estados Unidos, cumprindo nosso compromisso com um mundo livre de armas químicas.
Condenamos as contínuas violações da Coreia do Norte às Resoluções do Conselho de Segurança da ONU, mas seguimos comprometidos com a diplomacia que leve à desnuclearização da Península Coreana.
Estamos trabalhando com nossos parceiros para lidar com as atividades desestabilizadoras do Irã, que ameaçam a segurança regional e global, e permanecemos firmes em nosso compromisso de que o Irã nunca deve adquirir uma arma nuclear.
Agora, mesmo ao evoluirmos nossas instituições e criarmos novas parcerias criativas, quero ser claro: certos princípios do nosso sistema internacional são sagrados.
Soberania, integridade territorial, direitos humanos — esses são os princípios fundamentais da Carta da ONU, os pilares das relações pacíficas entre as nações, sem os quais não podemos alcançar nenhum dos nossos objetivos.
Isso não mudou, e isso não pode mudar.
No entanto, pelo segundo ano consecutivo, esta assembleia, dedicada à resolução pacífica de conflitos, está obscurecida pela sombra da guerra — uma guerra ilegal de conquista, lançada sem provocação pela Rússia contra seu vizinho, a Ucrânia.
Como todas as nações do mundo, os Estados Unidos querem que essa guerra termine. Nenhum país quer mais o fim desta guerra do que a Ucrânia.
E apoiamos firmemente a Ucrânia em seus esforços para alcançar uma resolução diplomática que traga uma paz justa e duradoura.
Mas apenas a Rússia — apenas a Rússia é responsável por esta guerra. Apenas a Rússia tem o poder de encerrá-la imediatamente. E é apenas a Rússia que está no caminho da paz, porque o preço que a Rússia impõe para a paz é a rendição da Ucrânia, o território da Ucrânia e as crianças da Ucrânia.
A Rússia acredita que o mundo vai se cansar e permitirá que ela brutalize a Ucrânia sem consequências.
Mas pergunto a vocês: se abandonarmos os princípios fundamentais da Carta da ONU para apaziguar um agressor, algum Estado-membro deste organismo pode se sentir seguro? Se permitirmos que a Ucrânia seja desmembrada, a independência de alguma nação estará protegida?
Com todo o respeito, sugiro que a resposta é não.
Precisamos enfrentar essa agressão desmedida hoje e dissuadir outros possíveis agressores amanhã.
É por isso que os Estados Unidos, juntamente com nossos aliados e parceiros ao redor do mundo, continuarão a apoiar o bravo povo da Ucrânia enquanto defendem sua soberania, sua integridade territorial e sua liberdade. (Aplausos.)
Isso não é apenas um investimento no futuro da Ucrânia, mas no futuro de todos os países que buscam um mundo regido por regras básicas que se apliquem igualmente a todas as nações e que garantam os direitos de cada país, não importa quão grande ou pequeno: soberania, integridade territorial. Esses são os alicerces inabaláveis deste órgão nobre, e os direitos humanos universais são sua estrela guia. Não podemos abrir mão de nenhum deles.
Há setenta e cinco anos, a Declaração Universal dos Direitos Humanos representou um notável ato de esperança coletiva — e digo novamente — esperança coletiva — redigida por um comitê que representava diferentes regiões, religiões e filosofias, e adotada por toda a Assembleia Geral. Os direitos contidos na declaração são elementares e duradouros.
E embora ainda lutemos para garantir os direitos iguais e inalienáveis de todos, eles continuam sendo constantes e verdadeiros.
Não podemos desviar o olhar diante de abusos, seja em Xinjiang, Teerã, Darfur ou em qualquer outro lugar.
Devemos continuar trabalhando para garantir que mulheres e meninas desfrutem de direitos iguais e de participação igualitária em suas sociedades. Que grupos indígenas, minorias raciais, étnicas e religiosas, e pessoas com deficiência não tenham seu potencial sufocado por discriminação sistêmica. Que pessoas LGBTQI+ não sejam perseguidas ou alvo de violência por causa de quem são.
Esses direitos fazem parte da nossa humanidade comum. Quando estão ausentes — quando estão ausentes em qualquer lugar, sua ausência é sentida em todos os lugares. Eles são essenciais para o progresso humano que nos une.
Meus colegas líderes, quero concluir com o seguinte. Neste ponto de inflexão da história, seremos julgados por termos ou não cumprido as promessas que fizemos a nós mesmos, uns aos outros, aos mais vulneráveis e a todos aqueles que herdarão o mundo que estamos criando, porque é isso que estamos fazendo.
Será que encontraremos dentro de nós a coragem de fazer o que precisa ser feito para preservar o planeta, proteger a dignidade humana, proporcionar oportunidades para as pessoas em todos os lugares e defender os princípios das Nações Unidas?
Só pode haver uma resposta para essa pergunta: Devemos, e iremos.
O caminho à frente é longo e difícil, mas se perseverarmos e vencermos, se mantivermos a fé em nós mesmos e mostrarmos o que é possível —
Vamos fazer esse trabalho juntos. Vamos entregar progresso para todos. Vamos curvar o arco da história para o bem do mundo, porque está em nosso poder fazê-lo.
Obrigado por ouvirem. Vocês são gentis.
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