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Discurso de Biden na ONU em 2023: Resumo e Análise

Discurso de Biden na ONU em 2023: Resumo e Análise
O presidente dos EUA, Joe Biden, discursando no Debate Geral da Assembleia Geral da ONU, em Nova Iorque. Imagem por UN Photo.

Em 19 de setembro de 2023, o presidente dos Estados Unidos, Joseph Biden, discursou no Debate Geral da Assembleia Geral da ONU, em Nova Iorque. Estes foram os principais pontos abordados por ele em seu discurso:

  • Assim como os EUA e o Vietnã superaram suas divergências depois de uma guerra e construíram uma parceria, os países podem reunir-se e resolver os desafios globais.
  • Os EUA sabem que têm o dever de liderar o mundo neste “momento crítico”, porque sabem que “nenhuma nação poderá enfrentar os desafios de hoje em dia sozinha” e que o futuro dos EUA está vinculado ao futuro do mundo como um todo.
  • As Nações Unidas tiveram muitos sucessos até o momento, como tirar 1 bilhão de pessoas da pobreza extrema e enfrentar crises sanitárias. No entanto, a organização precisa ser reformada, para lidar com desafios mais complexos. Por isso, os EUA apoiam expandir o número de membros permanentes e não permanentes do Conselho de Segurança da ONU.
  • Os EUA também estão focados em reformar e reforçar outras instituições multilaterais: o Banco Mundial, os bancos de desenvolvimento, o FMI, a OMC, o G7 e o G20.
  • Os EUA engajam-se em parcerias porque têm uma “visão positiva do nosso futuro compartilhado”. Exemplos de parcerias incluem a Declaração de Los Angeles sobre Migração e Proteção, a Cúpula da Democracia, o Quad, e a Parceria para Cooperação Atlântica. Além disso, há uma ênfase em criar corredores de infraestrutura, como o Corredor de Lobito na África e os esforços para conectar a Índia à Europa, pelo Oriente Médio.
  • Não há a intenção de “dissociar” os EUA da China. Na verdade, o objetivo é diminuir os riscos na associação entre ambos e cooperar com os chineses em temáticas comuns. Por outro lado, atos chineses de “agressão e intimidação” serão repelidos, por exemplo, por meio de operações de liberdade de navegação.
  • A mudança climática é uma ameaça existencial e está sendo lidada como tal. Os Estados Unidos comprometeram-se a financiar os países em desenvolvimento, para que eles implementem o Acordo de Paris, e a ajudar os pequenos países insulares.
  • O governo Biden comprometeu-se, também, a financiar o progresso do desenvolvimento, visando a impulsionar os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável. Isso inclui tratar dos países sobrecarregados por dívidas impagáveis, dos reveses provocados pela pandemia de Covid-19, e do progresso de mulheres e meninas.
  • Em termos de paz e segurança, os Estados Unidos continuam comprometidos com a não proliferação nuclear e com a destruição dos arsenais de armas químicas. No entanto, a Coreia do Norte e o Irã devem ser criticados por suas ações, assim como a Rússia, que tem inteira responsabilidade pela guerra na Ucrânia e tem o poder de encerrá-la.
  • Tem havido violações aos direitos humanos, incluindo em Xinjiang (China), em Teerã (Irã) e em Darfur (Sudão do Sul), e elas devem ser condenadas. Também têm havido abusos contra minorias: mulheres e meninas, grupos indígenas, e pessoas LGBTQI+. Lutar contra essas violações é algo exigido pela Declaração Universal dos Direitos Humanos e isso permitirá trazer maior progresso humano.

Análise do Discurso

Ao contrário do governo Trump, o de Joe Biden reconhece o papel dos Estados Unidos como superpotência não como uma desculpa para o isolacionismo, porém como o motivo para engajar-se no multilateralismo. Seu objetivo é liderar pelo exemplo, e princípios como o de soberania, integridade territorial e Direitos Humanos foram enfatizados.

A condenação estadunidense das violações e dos abusos perpetrados por seus rivais era esperada. Com isso, ouvimos comentários enérgicos sobre a invasão da Ucrânia, descrita como inteiramente de culpa da Rússia, e como uma falha do sistema de segurança coletiva consagrado na Carta das Nações Unidas. Similarmente, houve breves alusões aos atos chineses de “agressão e intimidação” — uma referência às disputas no Mar do Sul da China — e às violações aos direitos humanos em Xinjiang. O Irã e a Coreia do Norte, adversários tradicionais em temas de segurança internacional, foram citados também.

Todavia, na maior parte do discurso, o que saltava aos olhos era a insistência de Biden em reformar, financiar e reforçar as instituições multilaterais. Talvez não se via um governo estadunidense estar tão disposto a abrir os seus cofres desde o Plano Marshall, quando os EUA enviaram bilhões de dólares para reconstruir a Europa depois da Segunda Guerra Mundial. Segundo Biden, praticamente qualquer coisa poderá contar com a assistência dos EUA: o Banco Mundial, o FMI, os bancos de desenvolvimento, as nações em desenvolvimento, os projetos de mitigação da mudança climática, as iniciativas de segurança alimentar… parece ser bom demais para ser verdade, e provavelmente é isso mesmo.

Os EUA têm enfrentado uma crise inflacionária e o governo Biden sofre a oposição de uma Câmara dos Deputados controlada pelos republicanos, e de uma candidatura presidencial de Donald Trump e de outros concorrentes republicanos. É amplamente improvável que tenha dinheiro fácil saindo dos cofres do Tesouro dos EUA, porém a disposição de Biden em financiar múltiplas iniciativas pode ser compreendida como uma maneira de contrastar a China. Os chineses têm promovido a Iniciativa Cinturão e Rota, que consiste em investimentos em infraestrutura ao redor do mundo, e os EUA parecem querer fazer algo parecido, com atraso.

Com a exceção do anúncio de grandes investimentos e da tentativa de reformar as instituições internacionais, os Estados Unidos tinham pouco a dizer. Joe Biden deve ser exaltado por suas propostas para o futuro, mas esperava-se mais dele.

Íntegra do Discurso

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