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Resumo: Prisioneiros da Geografia: China

Resumo: Prisioneiros da Geografia: China
Membros do Exército da China passam pelo Portão de Tiananmen em Pequim. Imagem de Tomohiro Ohsumi/Bloomberg/Times Asi licenciada sob CC BY 2.0 DEED.

Em 2015, o jornalista britânico Tim Marshall publicou Prisioneiros da Geografia: 10 mapas que explicam tudo o que você precisa saber sobre política global. Esse livro divide o mundo em dez regiões, analisando como características geográficas tais quais rios, montanhas e mares influenciam as decisões políticas, as estratégias militares e o desenvolvimento econômico. Tim Marshall tem sido elogiado por tornar um tópico complexo acessível e envolvente. Todavia, seu livro também enfrenta críticas por certas omissões. Por exemplo, alguns críticos indicam que, ao focar apenas na geografia, Marshall às vezes negligencia outros fatores significativos na tomada de decisões políticas. De qualquer forma, é útil aprender com as ideias em Prisioneiros da Geografia.

Abaixo, há um resumo do segundo capítulo do livro, que trata da China. Você pode encontrar todos os resumos disponíveis deste livro, ou pode ler o resumo do capítulo anterior do livro, clicando nestes links.


Em outubro de 2006, ocorreu um surpreendente encontro naval no Mar da China Oriental. O USS Kitty Hawk, um imenso porta-aviões americano, e seus navios de guerra acompanhantes foram abordados inesperadamente por um submarino de ataque da classe Song da China. Esse incidente foi uma clara demonstração das crescentes capacidades navais da China e uma ousada reafirmação de sua presença na região.

O foco histórico da China tem sido predominantemente terrestre, devido ao seu vasto território e à proximidade com parceiros comerciais chave. Todavia, esse incidente marcou uma mudança significativa em sua abordagem, sinalizando uma nova assertividade marítima. Por milhares de anos, a China, principalmente uma potência terrestre, não viu a necessidade de ter uma forte presença naval. Seu povo — principalmente o grupo étnico Han, que compõe mais de 90% da população — historicamente viveu na fértil Planície do Norte da China, uma região que fomentou o surgimento da antiga civilização chinesa.

Essa planície, também conhecida como o coração da China, tem sido o berço da civilização chinesa por cerca de 4.000 anos. É uma região densamente povoada, abrigando cerca de um bilhão de pessoas, apesar de ter apenas metade do tamanho dos EUA. Essa região foi parte de antigos Estados chineses, como aquele da dinastia Shang, e tem sido o centro agrícola, cultural e político da China. O Rio Amarelo, que a atravessa, tem sido tanto uma bênção quanto uma maldição devido às suas frequentes inundações. Apesar de seus desafios, ele tem sido tão crucial para a China quanto o Nilo para o Egito.

Ao longo da história, a abordagem de segurança da China tem sido a de expandir-se como forma de defender-se. Esta estratégia foi empregada para criar zonas-tampão com regiões de população não Han, particularmente contra os guerreiros nômades da Mongólia. Com o tempo, as fronteiras da China expandiram-se significativamente. A construção da Grande Muralha sob a dinastia Qin e a criação do Grande Canal durante a dinastia Sui são testemunhos desses esforços.

A identidade da China foi moldada por uma longa história de lidar com ameaças externas, desde as invasões mongóis até a humilhação sofrida nas mãos das potências imperiais europeias e do Japão nos séculos XIX e XX. Essas experiências influenciaram profundamente o espírito nacional da China e sua política externa.

A era do pós-Segunda Guerra Mundial na China foi marcada por conflitos internos, com forças nacionalistas e comunistas lutando pelo controle do país. No final das contas, sob a liderança de Mao Zedong, o Partido Comunista emergiu vitorioso. O regime de Mao focou na consolidação do poder chinês e na extensão da influência chinesa, incluindo por meio da anexação do Tibete. Os sucessores de Mao, em especial Deng Xiaoping, mudaram o foco para o desenvolvimento econômico sob um modelo único de ‘socialismo com características chinesas’.

Essa transformação econômica tornou a China uma potência comercial global e uma força militar em ascensão. O crescimento da nação tem sido desigual, com regiões costeiras prosperando enquanto áreas do interior ficam para trás. A recente assertividade naval da China faz parte da história de uma nação que tem evoluído continuamente e se afirmado no cenário global.

As fronteiras modernas da China refletem seu status como uma nação segura e poderosa, estrategicamente reforçada por seu panorama geográfico. O Norte, com seu vasto Deserto de Gobi, forma uma barreira defensiva natural contra potenciais ameaças militares. Também serve como um portal para a expansão econômica, particularmente em mineração e comércio com a Mongólia, uma tendência que significa uma crescente presença de chineses Han na região.

A Leste, a fronteira com a Rússia se estende até o Oceano Pacífico. Essa área, caracterizada por sua população escassa e seu terreno desafiador, oferece pouco incentivo para engajamentos militares. Em vez disso, a relação da China com a Rússia é, cada vez mais, definida por laços econômicos, com a China emergindo como o parceiro dominante, especialmente à luz de eventos globais recentes como a crise na Ucrânia.

As fronteiras ao Sul da China com o Vietnã, com o Laos e com Mianmar apresentam uma mistura de desafios e oportunidades. Apesar das tensões históricas e das disputas territoriais com o Vietnã, ele é visto como um vizinho fácil de ser lidado, porque provavelmente buscará soluções diplomáticas para controvérsias. Os territórios acidentados do Laos e de Mianmar, situados na transição para o imponente Himalaia, têm barreiras naturais que complicam tanto o comércio quanto as manobras militares.

A relevância do Tibete para a China é multidimensional, envolvendo tanto uma estratégia geopolítica quanto um interesse em recursos naturais. Controlar o Tibete não apenas proporciona uma zona tampão contra a Índia, mas também garante o acesso a fontes vitais de águas fluviais. Essa importância estratégica prevalece sobre os movimentos pela independência do Tibete e as críticas internacionais à repressão deles. A China vê os comentários ocidentais sobre o Tibete, seja de celebridades ou políticos, por meio de uma perspectiva de segurança nacional, e não de direitos humanos.

Os desenvolvimentos de infraestrutura da China no Tibete, como a construção de ferrovias e estradas, comprovam o seu compromisso em integrar a região. Esses projetos, considerados impossíveis por muitos, foram concluídos com sucesso, conectando o Tibete ao resto da China. Isso facilitou a entrada de chineses Han na região, alterando o seu equilíbrio demográfico, assim como em outras regiões de fronteira, como a Manchúria, a Mongólia Interior e Xinjiang.

O aumento da população Han nessas áreas, incluindo o Tibete, levou a tensões sociais e inquietação. Os tumultos de 2008 na cidade de Lhasa são um exemplo disso. Apesar desses desafios, o governo chinês continua suas políticas no Tibete, equilibrando modernização e desenvolvimento econômico com rigorosas medidas de controle social. Na estratégia nacional da China, há uma interação complexa de dinâmicas étnicas, preocupações de segurança nacional, e o impulso implacável pelo desenvolvimento e pela integração do país.

A crescente população da China, concentrada principalmente na sua região central densamente povoada, tem buscado oportunidades de expansão. Essa expansão lembra o movimento para o Oeste na história estadunidense, no qual ferrovias tiveram um papel crucial no assentamento e no desenvolvimento do povo. Na China, redes de transporte modernas têm facilitado a migração de chineses Han para regiões como o Tibete, espelhando esse padrão histórico.

As fronteiras da China se estendem do Paquistão ao Cazaquistão, abrangendo uma variedade de terrenos, incluindo áreas montanhosas e parte da antiga Rota da Seda. A fronteira com o Cazaquistão, embora teoricamente um ponto fraco em termos de defesa, representa pouca ameaça devido à sua distância do centro da China e à falta de uma ameaça militar significativa advinda dos países vizinhos.

A região de Xinjiang, com sua população nativa muçulmana Uigur, permanece uma área crítica para a China devido à sua localização estratégica e aos seus recursos, incluindo petróleo e locais de teste nuclear. Apesar de tentativas históricas de independência e tensões étnicas em andamento, Pequim manteve um controle firme sobre a região. Esse controle é reforçado por meio de uma combinação de repressão, investimento econômico e migração de chineses Han para a região. Cidades como Shihezi são predominantemente Han, refletindo essa mudança demográfica.

Apesar da defesa internacional dos direitos dos uigures que vivem em Xinjiang, a posição da China quanto a essa matéria permanece inflexível. O governo vê os movimentos separatistas como uma combinação de elementos nacionalistas e islamistas, e tem preocupações sobre o aumento da violência. Diante disso, a postura da China é clara: manter o controle sobre Xinjiang e o Tibete é crucial para a segurança nacional, o comércio e a estabilidade econômica.

A relutância da China em aceitar a democracia e os direitos individuais decorre de priorizar a unidade e o progresso econômico mais do que os princípios democráticos. A perspectiva das lideranças chinesas é influenciada por uma cultura focada no coletivo, distinta do individualismo ocidental. Essa diferença nos valores sociais reflete o contexto histórico da China e a crença dos líderes em priorizar o bem coletivo.

O contrato social implícito entre o governo chinês e seu povo é baseado no crescimento econômico e na estabilidade, em troca da adesão às políticas governamentais. Contudo, desafios como corrupção, ineficiência e questões ambientais relacionadas à agricultura representam riscos para este arranjo. O número crescente de protestos na China reflete tensões subjacentes que podem ser exacerbadas se o crescimento econômico oscilar ou se desafios ambientais impactarem a produção de alimentos.

No plano internacional, a estratégia econômica da China envolve fabricar produtos a baixo custo para o consumo global. No entanto, essa estratégia enfrenta desafios devido ao aumento dos custos de mão de obra e à concorrência de outros países. Além disso, a necessidade de matérias-primas e a vulnerabilidade das cadeias de suprimentos ressaltam a importância de uma forte presença naval para salvaguardar os interesses econômicos da China. Essa abordagem multifacetada destaca o equilíbrio complexo da China entre estabilidade doméstica, crescimento econômico e comércio global.

A China, historicamente conhecida por suas viagens marítimas, como as expedições do almirante Zheng He, agora está focada em construir uma marinha de alto mar formidável, capaz de operar em todos os oceanos. Essa mudança estratégica visa a desafiar o predomínio da marinha dos EUA, embora seja um objetivo de longo prazo que se espera levar várias décadas. Enquanto isso, a presença naval crescente da China provavelmente criará tensões, especialmente com os Estados Unidos, nas águas contestadas próximas do território chinês.

As atividades navais da China e o desenvolvimento de sistemas de mísseis terrestres antinavio fazem parte de uma estratégia mais ampla para afirmar seu controle sobre os mares da China e reduzir o espaço de manobra para as marinhas dos EUA e seus aliados. A implantação desses recursos militares, além do programa espacial da China em crescimento, demonstra sua intenção de monitorar e potencialmente contrastar os movimentos dos EUA na região.

O controle da ‘Primeira Cadeia de Ilhas’, que inclui vários territórios disputados, é fundamental para a estratégia marítima da China. A ‘Linha dos Nove Traços’, expandida para incluir Taiwan, delineia as reivindicações territoriais da China no Mar do Sul da China, uma região vital para as rotas de navegação internacionais. O controle dessas áreas é crucial para o orgulho nacional e para a estratégia geopolítica da China. A possibilidade de bloquear essas passagens em tempos de guerra realça a importância dessas rotas para a segurança da China.

O Japão consiste em um obstáculo significativo às ambições marítimas da China. Os navios chineses devem navegar pelas águas territoriais japonesas e russas para acessar o Pacífico — um desafio intensificado por disputas territoriais, como aquela sobre as Ilhas Senkaku/Diaoyu. A presença militar do Japão, incluindo em Okinawa, serve como um lembrete contundente para a China dos desafios que enfrenta ao fazer valer seu poder naval na região.

Taiwan, outro ponto crítico na estratégia marítima da China, é vista como uma província separatista por Pequim e um aliado-chave por Washington. A complexa relação entre China, Taiwan e os EUA é ainda mais complicada pelo Ato de Relações de Taiwan de 1979, que compromete os EUA com a defesa de Taiwan em certos cenários. A abordagem da China em relação a Taiwan combina hard power com táticas de soft power, visando a uma reintegração pacífica enquanto se prepara para um possível conflito.

As ambições da China se estendem a garantir acesso ao Oceano Índico, vital para suas necessidades energéticas. Navegar pelo Mar do Sul da China e pelo Estreito de Málaca, que são estratégicos, envolve lidar com várias nações, muitas das quais são alinhadas aos EUA. A região é repleta de disputas territoriais, com vários países reivindicando partes do mar, tornando a área um ponto crítico de potencial conflito.

Para garantir o acesso a rotas comerciais e a recursos, a China tem empregado uma combinação de diplomacia e expansão naval. O objetivo é influenciar os países do Sudeste Asiático e limitar suas relações com os EUA. Essa estratégia envolve afirmar reivindicações territoriais, como evidenciado pelos mapas e patrulhas navais agressivas da China.

O escritor geopolítico Robert Kaplan compara a estratégia da China no Mar do Sul da China à abordagem dos EUA para o Caribe no início do século XX. Assim como os EUA buscavam dominar as águas ao redor de suas fronteiras, a China agora persegue um objetivo semelhante em suas águas vizinhas, marcando uma mudança significativa na paisagem geopolítica da região.

A ambição da China de se tornar uma potência de dois oceanos, abrangendo tanto o Pacífico quanto o Oceano Índico, envolve investimentos significativos em portos de águas profundas em vários países, incluindo Mianmar, Bangladesh, Paquistão e Sri Lanka. Esses investimentos servem a múltiplos propósitos: fomentar boas relações, criar potenciais bases navais para uso futuro e estabelecer ligações comerciais diretas.

Particularmente no Oceano Índico e na Baía de Bengala, a estratégia da China é garantir suas linhas de abastecimento energético. Isso é evidente na construção de gasodutos e oleodutos da costa oeste de Mianmar até o sudoeste da China, visando reduzir a dependência do Estreito de Málaca, um ponto de estrangulamento para as importações de energia da China. A importância geopolítica de Mianmar nesse contexto atraiu a atenção de outras potências globais, que também estão tentando estabelecer laços mais fortes com Mianmar para contrabalançar a influência da China.

O alcance global da China vai além da estratégia marítima. Seus investimentos em projetos de infraestrutura, como portos no Quênia, ferrovias em Angola e uma represa hidrelétrica na Etiópia, fazem parte de seu esforço mais amplo para garantir recursos, particularmente minerais e metais preciosos da África. Essa presença global de empresas e trabalhadores chineses prepara o terreno para a eventual expansão da influência militar da China.

Apesar de suas ambições, a China enfrenta desafios para se tornar uma verdadeira potência militar global. Por exemplo, as dificuldades logísticas experimentadas durante a resposta ao terremoto de Sichuan em 2008 destacam as limitações atuais da China em projetar rapidamente forças e equipamentos no exterior. No entanto, espera-se que essa capacidade melhore com o tempo.

A abordagem da China à diplomacia global e a questões econômicas não é fortemente influenciada por considerações de direitos humanos. Em vez disso, seu foco está em proteger suas fronteiras, expandir sua influência além da Primeira Cadeia de Ilhas, e engajar-se com confiança em assuntos globais. Evitar conflitos maiores com potências como o Japão ou os EUA é crucial para a China continuar ascendendo.

O futuro da China como uma potência global está sujeito tanto a um potencial imenso quanto a riscos significativos. Recessões econômicas, como uma depressão semelhante àquela dos anos 1930, poderiam impactar severamente a China devido à sua profunda integração com a economia global. Uma queda na demanda global poderia levar ao desemprego em massa na China, potencialmente resultando em agitação social sem precedentes, especialmente em áreas urbanas densamente povoadas. A vasta população da China consiste tanto em uma oportunidade para crescimento quanto em um desafio formidável para manter a estabilidade e continuar sua ascensão como uma potência global.


Você pode ler o resumo do próximo capítulo do livro clicando neste link.


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